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12/08/2020 Desenvolvimento Humano

Você é Feliz?

“Você é feliz?”. Uma vez me perguntaram como se pergunta sobre como foi o dia, ou até mesmo o que você comeu ontem.

Eu não tive certeza sobre o que dizer direito. Para mim, aquela questão me pareceu muito profunda. Tão profunda a ponto de eu não entender o real sentido da felicidade. Depois de uma leve reflexão, respondi o que parte das pessoas diz quando se fala de felicidade: “sim, sou feliz”.

Lembro como se fosse hoje da minha primeira aula sobre Felicidade na pós-graduação de Psicologia Positiva. Ao contrário do que muitos pensam, por mais que hoje eu perceba que meu propósito está ligado a resgatar a essência do ser humano para um mundo mais feliz, eu não tinha clareza sobre o que fazer profissionalmente, até aquele momento.

Comecei a assistir a aula de Felicidade e, a cada minuto, eu vibrava. Vibrava como quem diz: “nossa, existem estudos científicos para o que eu acredito desde que me entendo por gente. Existem experimentos e dados que comprovam a importância de você se considerar feliz”.

E, sim, a partir daí, é exatamente isso que você pode ter imaginado. Não parei mais. Hoje eu acordo e durmo pensando na Felicidade, mais especificadamente nas ferramentas e dados que a Neurociência, a Filosofia e a Psicologia Positiva trazem para ajudar pessoas a observarem a vida de uma nova forma, uma forma que seja possível atingir esse estado tão desejado.

Bom, e o que é então Felicidade? Nas linhas abaixo, trago para você o meu conceito. Sim, me permiti escrever a partir de opiniões pessoais claro que tendo como referência todo o embasamento de estudos que tenho feito, clientes que tenho atendido e palestras que tenho dado ao longo da minha singela jornada.

“Inundo-me em meio a uma onda de teorias e conceitos quando penso em felicidade. Felicidade é um constructo. Difícil palavra, né? Mas tudo bem, quer dizer que felicidade é simples e ao mesmo tempo complexa que não cabe em apenas um conceito. Pra começar, felicidade é um estado. É o aqui e agora, e traz o sublime contentamento com ela. Felicidade nos lembra um abraço apertado, um sorriso, um aperto de mão, uma palavra amiga. Tão simples e, ás vezes, parece tão longe. Não, felicidade não é mundo de Poliana. Você pode estar feliz se sentindo triste. Interessante, né? Acredito que felicidade vem ao lado da seguinte pergunta: você deseja que o dia de amanhã seja parecido com o de hoje? Sim, é esse gosto de chegar em uma terça-feira e seguir desejando o que já se possui, como diz Santo Agostinho. E ah! Não se preocupe se não se identificou, tenho uma notícia boa pra você: felicidade como se não bastasse ser tão sublime é, também, treinável. Sim, isso mesmo! Podemos treinar nosso cérebro para ser feliz.”

Simples e tão profundo, né? Gosto de pensar nessas duas características quando leio esse conceito, as outras, deixo com você.

Bom, a verdade é que muito se fala sobre felicidade ao longo do tempo. Na história, Tales de Mileto traz que “é feliz quem tem corpo são e forte, boa sorte e alma bem formada” e Platão diz que “exercendo a virtude e a justiça se obtém a felicidade”. Por outro lado, Aristóteles traz o conceito de Eudaimonia em que afirma que “a virtude das virtudes é a felicidade”.

São diversos os pensadores e filósofos que trouxeram alguns conceitos sobre Felicidade.
Atualmente, costumo utilizar um dos conceitos mais propagados dentro da Psicologia Positiva quando falamos sobre o assunto, o da Dra. Sonja Lyubomirsky, professora e pesquisadora na Universidade da Califórnia. De acordo com ela, “a felicidade é uma experiência de contentamento e bem-estar, combinado a uma sensação de que a própria vida possui sentido e vale a pena.”

Ao estudar esse conceito, podemos perceber dois grandes pilares: a importância de ter mais emoções positivas que negativas no nosso dia e a percepção de sentido da vida, ou seja, de propósito. Com essa consciência, vamos trazer alguns pontos sobre ambos.

Em relação a ter mais emoções positivas que negativas, é extremamente necessário ressaltar que, dentro da Psicologia Positiva, nós não negamos, de forma alguma, as emoções negativas, tais como: medo, raiva, tristeza, dentre outras. Pelo contrário, acreditamos que são emoções importantes e necessárias, afinal, nós somos seres humanos. Contudo, ter mais emoções positivas que negativas e adquirir a capacidade de trazer emoções positivas para sua vida é essencial. Para conseguir isso, precisamos conhecer nossos recursos.

Costumo dizer que os recursos são nossas caixinhas de ferramentas ou, como diz minha querida professora Carla Furtado, são os utensílios do nosso kit de primeiros socorros. Quando falamos de recursos nesse contexto, podemos entender como atividades que te trazem emoções positivas. Por exemplo, tenho como grandes recursos estar em meio à natureza e conversar com alguém da minha rede de apoio (pessoas que acredito que realmente posso contar). Para cada pessoa podem existir diferentes atividades, como meus pais, por exemplo, que um grande recurso de ambos é andar de moto pelas estradas. Para meus pais, sentar em cima de uma moto e passar horas e horas em alguma estrada é muito prazeroso e os faz muito bem, algo que, para outra pessoa, por exemplo, pode não fazer sentido e despertar o oposto. Daí vem a, não só importância, mas a necessidade do autoconhecimento, pois como saberei o que me faz bem se não me conheço o suficiente para afirmar?

Nesse contexto, é necessário lembrar que existem alguns recursos que o impacto é comprovado pela ciência, como a meditação. Há grandes estudos que comprovam o bom funcionamento do nosso cérebro e corpo com a prática constante de meditação. A Neurociência, por exemplo, entende que existem 4 (quatro) grandes habilidades base para a felicidade: Resiliência, Savouring, Atenção Plena e Generosidade. Ou seja, a Neurociência acredita que essas são 4 (quatro) habilidades base em que se pode aprender e treinar seu cérebro para desenvolver o estado de felicidade. Nesse sentido, a meditação vem como uma ferramenta para exercer a habilidade de Atenção Plena, que está ligada a ideia de estar, de forma consciente e proposital, no momento presente.

Como segundo pilar, temos a sensação de que a própria vida possui sentido e vale a pena, ou seja, o propósito. Quando penso em propósito, logo me vem à mente: propósito é a sua forma de demonstrar amor ao mundo. É esse gosto de chegar em uma terça feira comum e seguir desejando o que já se possui, como diz Santo Agostinho. É a percepção de que você está contribuindo para algo maior que você mesmo e fazendo a diferença no mundo, através de seus talentos.

Algo muito interessante que costuma acontecer quando estudamos sobre felicidade é que vamos aos poucos nos considerando pessoas mais felizes. Acredito que, para isso ocorrer, existe relação direta com o que você pensa que é felicidade.

Muitas vezes, principalmente com a globalização e a imersão da sociedade numa cultura voltada ao consumo, temos a ideia de que “serei feliz quando conseguir aquele emprego”, ou “quando passar no concurso”, ou “quando me formar”, ou “quando me aposentar”, ou “quando tiver uma família”, ou “quando conseguir comprar meu carro” ou “se não tivesse feito daquela forma”, ou “se isso não tivesse acontecido comigo” e por aí vai. São tantos “quando” e “se” que acabamos nos perdendo entre passado e futuro, e esquecemos de valorizar o bem mais precioso que temos: o momento presente. Como o próprio nome já diz, o presente é a chance que temos de viver, de colocar em prática nossos talentos, de perceber que a vida, por si só, vale a pena e que a maior dádiva que alguém pode ter é a chance de estar vivo.

Por fim, quero trazer uma notícia pra você: a felicidade é aprendível. Sim, isso mesmo. Você pode desenvolver seu cérebro para perceber a vida de uma forma que te impulsione ao estado de felicidade, devido à neuroplasiticidade cerebral (possibilidade do nosso cérebro de conseguir se desenvolver pelo resto da vida). Mas esse é um assunto que fica para a nossa próxima conversa.

Bianca Ramos
eubiancaramos@gmail.com

Colaboradores

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