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24/05/2020 Desenvolvimento Humano

Existe Felicidade sem Resiliência?

“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade (Mary Cholmodeley)

A vida nos pregou uma peça. Enquanto vivíamos numa corrida vertiginosa pelo conhecimento, crescimento, produtividade, avanço tecnológico, alcance de objetivos e metas… e porque não dizer, pela busca da imortalidade, o planeta nos freou! Fomos convocados a parar, refletir, rever, repensar, desaprender, aprender… Agora estamos todos mergulhados em um cenário obscuro e cheio de incertezas, sendo igualmente testados em nossa capacidade para lidar com vicissitudes e atribulações. Ao longo dessa experiência podemos observar as diferentes reações e maneiras de interagir com essa realidade tão desafiadora. E como em outros contextos de crise, é comum emergir o questionamento: por que diante de condições similares de adversidade algumas pessoas se desenvolvem satisfatoriamente e até crescem, e outras, sucumbem?

Os estudos vêm indicando a Resiliência como determinante na maneira como o indivíduo lida com os desafios ou situações de estresse, e consequentemente, no êxito ou não, nesse processo de adaptação.

A Neurociência aponta a Resiliência como uma habilidade que influencia diretamente a percepção humana de bem-estar e felicidade.

Segundo Rick Hanson, bem-estar e resiliência estimulam um ao outro num círculo virtuoso, pois quando internalizamos experiências agradáveis, desenvolvemos potencialidades interiores, que nos tornam mais resilientes.

Como toda habilidade, a resiliência, pode ser aprendida e desenvolvida, graças à plasticidade do cérebro, que consegue construir novos caminhos de conexões neurais, por meio de exercícios e práticas específicas. A Plasticidade cerebral revela a capacidade do sistema nervoso de mudar sua estrutura, e consequentemente sua função ao longo da vida, em resposta à diversidade, permitindo a adaptação ao ambiente que estamos inseridos e até mesmo, a aquisição de novos hábitos.

Mas afinal, o que é resiliência?

Em latim, resilio, significa retornar a um estado anterior, sendo que foi utilizada na Engenharia e na Física, para definir a capacidade de um corpo físico voltar ao seu estado normal, depois de ter sido submetido a uma pressão sobre si.

Nas Ciências Humanas, a resiliência tem sido tratada como a capacidade de um indivíduo ou grupo, mesmo num ambiente desfavorável, se construir ou se reconstruir positivamente frente às adversidades (Barlach, 2005).

Na Psicologia foram realizados estudos demonstrando a relação entre resiliência, traços de personalidade e reações psicológicas de superação diante de situações traumáticas individuais.

Outros estudos psicológicos apontam a resiliência como um fenômeno resultante não apenas de traços de personalidade, mas sim, como fruto de interação dinâmica com o meio, no qual observa-se a experimentação enquanto criança, de um apoio irrestrito de um adulto significativo (Melillo & Ojeda, 2005).

Em síntese, podemos considerar a resiliência como uma habilidade de se recuperar de adversidades, que oportuniza comportamentos adequados e salutares mediante o enfrentamento de desafios.

Sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que temos (William Shakespeare).

A verdadeira resiliência promove bem-estar e A verdadeira resiliência promove bem-estar e intrínseca sensação de felicidade e a falta dela, torna o ser humano muito mais vulnerável às condições externas e suscetível à infelicidade. Podemos dizer que a resiliência é uma força psíquica que oferece condições para a felicidade duradoura.
Boris Cyrulnik, neurologista francês, compara a resiliência à arte de navegar em uma tempestade, onde o trauma – tempestade – conduz o indivíduo para um caminho inadequado para a sua saúde psicológica e a resiliência, por sua vez, instrumentaliza a pessoa para lidar com tais situações e sair fortalecido delas.

A Resiliência é parceira da felicidade não somente para administrar dor e estresse ou para se recuperar de perdas e traumas, mas também porque habilita as pessoas a buscar e visualizar oportunidades mesmo em cenários difíceis, bem como, a criar e reinventar.

O cérebro possui grande sensibilidade para notícias negativas e registra rapidamente as experiências desagradáveis na memória de longo prazo. Além disso, precisa de previsibilidade e possui forte propensão a se preocupar e se ocupar com problemas.

Esses fatores contribuem para disparar pensamentos e emoções negativas, que prejudicam a adaptação e superação de situações adversas.

Muitos podem perceber a manifestação da resiliência apenas na capacidade de reação do indivíduo frente aos acontecimentos. No entanto, a resiliência também atua na perspectiva preventiva, como uma espécie de imunidade emocional.

Pessoas resilientes tornam-se mais “blindadas” contra as intempéries da vida, o que não quer dizer que sejam isentas a elas.

São muitos os benefícios gerados pela resiliência. Ela possibilita interagirmos com maior flexibilidade e otimismo, favorecendo a ressignificação, aprendizagem com os erros e amadurecimento.

Quando nos tornamos mais resilientes, aumentamos nossa capacidade de satisfazer nossas necessidades – tais como segurança, satisfação e conexão -diante dos desafios da vida, reconhecendo o que é realidade, encontrando recursos, gerenciando pensamentos, sentimentos e ações e nos relacionando habilmente com os outros (Hanson).

Existem diversos caminhos que podem ser percorridos para desenvolver a resiliência, entre eles: a prática da compaixão consigo e com o outro; viver em atenção plena o momento presente; exercitar a gratidão; fortalecer a confiança em si mesmo; cultivar a autonomia e investir na qualidade e assertividade dos relacionamentos.

Pelo visto, a jornada de fortalecimento dessa preciosa habilidade é grandiosa e trabalhosa. É preciso querer de verdade e se dedicar ao autodesenvolvimento, a fim de se tornar mais resiliente. Isso me remete à um pensamento inspirado por Mia Couto: a felicidade dá trabalho, a infelicidade também. Qual dos dois você prefere?

“Tudo pode ser tirado de um homem, exceto uma coisa: a última das liberdades humanas – escolher a sua atitude em um determinado conjunto de circunstâncias, escolher seu próprio caminho” (Viktor Frankl).

Não penses no bem com indiferença, nem digas “isso não me acontecerá”.
Gota a gota, a moringa se enche. Do mesmo modo, o sábio, que o recolhe pouco a pouco, enche-se de bem”

Renata Castello Branco
Psicóloga com Abordagem Sistêmica e Terapia Familiar. Coach Executiva, de Performance e Carreira.
renatacastellob@excelenciaconsultoriarh.com

Colaboradores

Renata Castello Branco

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