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05/11/2020 Capa

O Grande Rei

Pessoas queridas, chego cheia de alegria para apresentar essa linda e poética matéria que foi coisa do tipo correio elegante, que existia na escola.
Um dia, ouvi alguém falar numa live sobre um perfil na rede social: O Grande Rei. Curiosa, como vocês sabem que eu sou, fui conferir. Fiquei apaixonada pelo trabalho desse grande artista, que merece um lugar de muito destaque por sua sensibilidade e toda a sua qualidade humana.

Plínio Moura, geminiano, arquiteto, aquarelista, poeta… tanta coisa numa pessoa só que nos deixa sem fôlego; polilógico, polissêmico e polifônico, um ser humano que reconhece a sua condição e missão de ser e estar no mundo.

Conheci e conversei com ele. Um papo tão longo, de muitas horas e cheios de informações que não caberiam numa vida inteira se fosse para transcrever. E eu, nadei no mar da quietude de seus olhos castanhos e pude descobrir mais sobre sua alma e naturalmente, sobre O Grande Rei.

Entendi que O Grande Rei não foi inventado, ele nasceu. Saltou no papel como se tivesse vontade própria. É a tradução mais singela de um coração apaixonado. E depois, ele foi se aprimorando, até se tornar o que hoje vemos, delineando com tanta beleza os sentimentos que saltam das entranhas do Plínio e de todos nós.

Entendendo esse encontro como sagrado, fiquei por muito pensando como o abordaria para uma entrevista. Não poderia e nem deveria sair da dimensão das artes. Esse é o espaço que ele se revela de maneira mais esfuziante. Então, escrevi-lhe uma carta. Como todas as minhas ansiedades. E ele… respondeu.

Portanto, essa matéria é uma troca de amabilidades entre dois amigos, acho que assim posso considerá-lo, já que trocamos alguns segredos! Leve e singela, como O Grande Rei.
Gratidão ao querido Plínio pela abertura, pelo diálogo e pela entrega profunda e genuína. Para vocês, desejo uma leitura deliciosa, cheia de amor.

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Plínio,

Não sei muito bem como me reportar a você. Ao passo que me sinto tão íntima, tenho clareza de que não nos conhecemos. Acredito que é porque sua arte é tão inspiradora que deixa a gente assim, leve! Me deixa pronta para sorrir para o mundo. Fiquei pensando se lhe mandava um montão de perguntas diretivas, que encaminhariam à respostas objetivas… Daí pensei que não, não tem condições de ser assim, não com você.

Você transpira sensibilidade, inteireza. Digo isso baseada nas observações que tenho feito faz um tempo das suas redes sociais e pelas nossas três horas de conversa. Você é de verdade! As pessoas de verdade são raridade hoje em dia. São como as bailarinas, das caixinhas de música de antigamente. Aquelas que a gente dava corda… São preciosas, sensíveis e nos levam a reações polilógicas, polifônicas e polissêmicas. Por isso, essa entrevista é tão especial.

Bonito esse momento, que me tira o ar. Preciso pensar sobre como começar a perguntar aquilo que quero saber… acho que naturalmente é o que todos que te acompanham querem também… eu vejo O Grande Rei dentro de você. E ele é tão grandão, grandão mesmo, que pulou para o papel numa linda aquarela.

Me conta mais… O que existe do Plínio no Grande Rei… tenho muitas suposições!
Isso explica muita coisa. Acredito que deva explicar inclusive a evolução do seu traço. Notei que o Grande Rei mudou ao longo do tempo. Faz sentido? O Plínio também mudou o curso da caminhada ao longo desses anos?

Ah! Plinio! me conta também sobre suas inspirações… como surgem as ideias, como traceja o desenho, como escolhe as cores da pintura. Fico fascinada com processos de criação, dizem tanto de como o artista se desnuda. É fantástico.

Sabe que também acho incrível o fato de todas os desenhos estarem acompanhados de textos? E são textos tão profundos, tão impactantes. O que nasce primeiro, o texto ou o desenho? E me conta, prometo guardar segredo… esses textos revelam coisas que você está vivenciando naquele momento, ou nem sempre? Eu piro no #pracegover Rs. Você tem umas tiradas diferenciadas… sério mesmo. De onde veio isso, pracegover?

O Pequeno Príncipe, acho que foi inspiração para nossas infâncias… Sei que você tem 31, eu não tenho problema em te contar a minha idade, tenho 37. Eu sei, você pensou aí que nem parece! ( isso é para quebrar o gelo) rs. Mas, vivi esse livro na pele, reli adolescente e revisito sempre enquanto adulta. Marcou a minha geração. E fico cá com meus botões pensando: ele poderia ter escolhido qualquer outra referência. Por que essa? Por que esse livro? E por que o pequeno príncipe teve que crescer? Será que o Grande Rei é o Pequeno Príncipe crescido? São tantas questões que surgem a partir da leitura daquelas aquarelas…
São muitas aquarelas que você pinta, não é? imagino que sejam. O que você faz com as aquarelas que não publica? Diz que você vende… Minha expectativa de comprar uma aquarela sua é imensa.

Você me disse que o livro já está encaminhado. O que podemos e devemos falar sobre o livro do Grande Rei? Juro que sou a mais ansiosa para ler… nossa, o pouco que você me contou, já estou apaixonada.

Plínio… Escreve uma mensagem que traduza a sua arte e que possa inspirar pessoas.

Só tenho a agradecer…
Receba meu presente.
Um grande coração
Que no peito não cabe
Tamanha emoção
Transborda sensibilidade
Na casa de gêmeos ele nasceu
Com seus olhos castanhos tímidos
com uma mira além do alcance
que demarca o infinito
Arquiteto de sonhos
tradutor de emoções
Aquarelista intuitivo
São muitas definições!
O menino espelhado no príncipe
O homem dentro do Grande Rei
Muitas histórias, miudezas e sonhos
Assim a história se fez!
Um presente para todos nós
Que se revela com tanta beleza
Amor transbordando à pele
Vida pulsante, delicadeza…

Vamos Ad-mirar a vida. Mirar a consciência de ser e estar no mundo no com toda sua eclosão e recolhimento.

Paz e Bem para você.

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Querida alma que habita a mulher chamada Amanda,

Se reporte a mim como bem entender. Essa carta é primeiro minha, sou eu que primeiro a leio, é comigo que ela primeiro fala… Como bem escolher se reportar, “ouvirei” com olhos atentos à sua carta-entrevista, que se dirige ao meu profundo eu − este que fala por dois.

Agradeço o carinho em suas palavras! Bem sei que sou de verdade porque me belisco e sinto… Mesmo quando o beliscado não é de carne, tem tinta nas veias, é o nosso grande reizinho – aí é que mais sinto! Sinto por dois, pois é qualidade do geminiano se dividir para melhor se entender.

Como as bailarinas das caixinhas de música, te escrevo porque você me deu corda. Agora ouça com olhos também atentos, alma que habita a mulher chamada Amanda, e ouça você também, caro leitor, cara leitora, que segue conosco aqui.

No Grande Rei existe tudo de uma parte de mim. A parte mais vermelha de uma maçã machucada. Uma parte de mim é o Grande Rei, e ele por completo é uma parte minha. O planeta pequeno é a minha falta de espaço. Não quero explicar o que isto quer dizer, mas na minha cabeça eu já disse explicado. É nesse universo longínquo que aprendi a me encontrar. E se mais alguém se encontra, fico feliz. Pois é apavorante estar perdido sozinho.

O traço com que desenho o reizinho não só mudou ao longo destes 5 anos, mas amadureceu. Antes era verde e duro, como uma fruta verde ainda longe do “ponto”, mas que já carrega a promessa da carne macia, e de se adoçar. Quando mudamos, podemos mudar para melhor ou pior. Já quando amadurecemos, só podemos doce ser. Atento ao “ponto”, para não amadurecer sem medida, seguro firme na mão da minha criança interior e com isto me mantenho aqui. “Não vá longe demais, que lá é fundo!” Diz a minha alma-mãe para o meu eu-menino, que teimoso vai (logo, vou). E quando me falta o chão nos pés, quando a onda me cobre a cabeça tendo o peito já coberto faz tempo, volto aos pulos contra a maré contando sobre como é lá no profundo. É isto de que existe de mim, Plínio, no Grande Rei, que também sou eu.

A inspiração artística é uma relação de troca da arte com a vida. A arte “deslimita” a vida! O que me inspira é o cotidiano e a oportunidade de viver. É como vivo e como as vidas se tocam, é como elas se esbarram, se relacionam, se ignoram, se abraçam… O não-viver também me inspira, mas aí já é um mistério que ainda não arrisco explicar.

As ideias surgem quando querem surgir. Sou um refém das suas vontades. Logo que chegam, eu as anoto em um pedaço de papel qualquer, que deixa de ser “um pedaço de papel qualquer” na medida em que registra uma ideia. Se esboço algumas palavras antes dos desenhos, tudo flui melhor. Mas o contrário também acontece: as vezes os desenhos nascem sem que eu saiba o que quero dizer. Estes são desenhos-mudos aos olhos-de-ler, traçados com sentimentos que não consegui traduzir. A maioria destes eu não publico. O que talvez seja um equívoco meu. Mas penso assim “se nesta aquarela eu não entendo o que quis dizer, quero entender antes de expor.” Porque desenhar demais é como falar demais – há sempre uma exposição.

O #PraCegoVer é um compromisso com a acessibilidade alinhado com a máxima “O essencial é invisível aos olhos. Só se vê bem com o coração.”. Na adolescência visitei o Instituto de Cegos da Bahia em um passeio do colégio. Joguei futebol vendado com deficientes visuais. Eu, que já sou perna de pau enxergando, vendado sou de todo perdido. A visita me marcou para além de uma boa canelada que levei… Mais tarde a graduação em arquitetura reforçou o compromisso com à acessibilidade. Ler “Ensaio Sobre a Cegueira”, de José Saramago, idem. Então um dia comecei a usar essa hashtag descrevendo a parte visual das minhas publicações e buscando aprofundar em detalhes invisíveis aos olhos que enxergam sem ver, revelando a minha intenção em pintar/desenhar isto ou aquilo. Eu não imaginava que o meu #PraCegoVer se tornaria tão querido, assim como não imaginamos tantas coisas que nos acontece.

Não sei se escolhi me expressar através de um personagem inspirado n’O Pequeno Príncipe. Foi algo que aconteceu, foi acontecendo, o tempo pegou pela mão e, enquanto me distraia, passou meia década… Porque quando o tempo pega pela mão é assim: você revê uma criança e diz “Como cresceu!”. E é assim que temos O Grande Rei, ou ao menos é assim que eu o tenho: Uma criança crescida, mas relutante por não crescer demais.

O livro escrevi. Mora em uma gaveta. Escrito aos poucos e aos muitos. Costura quase todas as aquarelas que as pessoas veem na minha página, sem imaginar que a página é um livro, costurado com uma linha do tempo… Gostaria de já tê-lo publicado, especialmente porque o dedico ao meu avô que já passou dos 90 e não sei quanto tempo ainda terá. Quero muito que ele o leia, daí a minha única pressa! Mas sou paciente. O escrevi para o sempre, que vai muito além de mim neste agora. O original está hoje com uma editora com a qual eu gostaria de publicar, e aguardo.

“Plínio… Escreva uma mensagem que traduza a sua arte e que possa inspirar as pessoas.”

Pessoas, “enquanto há vida, há esperança!”. Se tratem com o carinho que gostariam de ter. Pois se vocês o tiverem por si, já o terão. Busquem redenção consigo mesmas! As coisas levam um tempo para acontecer, então paciência. Não rodem o mundo tentando acompanhar a primavera. Assim como não é possível viver acompanhando o sol, aceitem as noites, os outonos e os invernos. Em tudo temos algo para viver, e, se atentos, alguma lição vai nos convidar a crescer.

Quero agradecer a todas as pessoas que leram até aqui. Desejar que um dia possamos nos encontrar e conversar sobre a vida. Nos dividir juntos, beber um café. Agradeço à Amanda, pelo convite, carinho e espaço nesta revista. Ao Marcelo, que não conheci durante este processo, mas que apoiou a ideia. E agradeço ao Grande Rei, por me fazer sentir grande também.

Carinho,

Plínio.
Camaçari, 29 de agosto de 2020

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E é nesse movimento de vida que esses textos se entrelaçam. Pois é assim a tessitura do tempo, que faz dos encontros uma trama. Cheguei no Plínio, homem – menino que se distrai com facilidade e gosta de se aprofundar na simplicidade cotidiana. Como um sonho, onde as borboletas bailam lindamente quase que exigindo a nossa atenção. É isso que ele diz sobre felicidade, seja nas palavras, seja nas cores de sua aquarela.
“Felicidade é quando você sente que está vivendo a vida alinhado com seu propósito”, foi quase um sussurro. E é assim que ele segue a vida, com uma ideia de felicidade episódica, que sempre leva a reflexões na busca de equilíbrio.

Da sua maior inspiração, só beleza e referência. Símbolo de alegria, como numa cena de sorrisos e abraços dentro do mato, o avô, “seu Carlos”, gente simples e sabida, é personagem marcante de sua vida. Aquele cujo elogio genuíno toca profundamente seu coração : “Todas as virtudes que um homem pode ter, na idade dele, o meu neto tem”.

Para quem o livro é dedicado e a sua vida também. É desse lugar de ancestralidade que o Plínio leva uma vida sem vaidades e confessa que os elogios ainda representam desafios.

Um autor, tradutor de singelezas, arquiteto de sonhos. Ser humano, emotivo, passeia fluido pelos jardins de girassóis de Dona Edna* e se revela nas bem traçadas linhas da história de Daniel Vieira* que afirma: “Você é meu amigo!”. Fruto do ventre de Dona Maria Julia, sua maior e primeira fã. Aquela que tudo lê e tudo vê.

É o Plinio o Grande Rei, mas não só isso. A cada camada desnudada saltam coisas que extrapolam o reizinho, e ele segue sendo humano, encantando o mundo com seus desenhos acompanhados de músicas nunca são cantadas, mas que viram textos, desejando saúde, equilíbrio e clareza espiritual. Um mar de amor que transbordando em toda humanidade.

* Dona Edna e Daniel Vieira são pessoas que marcaram a vida do Plínio na sua trajetória como Líder nas construções da TETO.

Colaboradores

Plínio Moura