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25/05/2020 Capa

Medicina Antroposófica

Por força da curiosidade, como uma boa estudante de Pedagogia Antroposófica, cheguei à Dra. Anne Jaqueline. Quando, ao longo de meus estudos percebi que éramos compostos por três sistemas: pensar, sentir e querer, ao passo que avançava nas leituras, compreendia o quanto meu corpo estava em desequilíbrio. Consciente de que o corpo é a morada do Eu, resolvi buscar a medicina antroposófica como um caminho para meu tratamento.

Consigo lembrar do cheiro do “consultório”, bem diferente de tudo que já vivi, experimentei ou senti na vida. Estava ansiosa e com medo, quando ela – a Dra. Ane – sentou em minha frente com papéis e caneta, abriu um largo sorriso e com seu delicioso sotaque sergipano me perguntou: – Então Amanda, o que te traz aqui?

O mais engraçado era que eu não sabia!! Rs. Gelei por completo. E respondi a ela que não tinha conseguido trazer os resultados dos exames que havia feito, fruto da solicitação de um médico endocrinologista tradicional. Com muita docilidade no olhar, ela me respondeu que não tinha problema e que o mais importante para a consulta estava ali naquele momento: Eu. Então ela começou a fazer perguntas e anotar as minhas respostas nos papéis. Santas folhas de papéis!

Acreditem, teria uma longa e intensa história de transformação para contar para vocês, mas reconheço que essa não é a intenção nesse momento. O fato é que tenho vivido a observação amorosa das minhas questões a partir do olhar acerca da minha biografia, provocada pelas consultas com a Dra Anne. Além de tudo, as práticas, as “medicações” e a clareza dos meus setênios, mudaram a minha relação comigo, na direção de uma consciência de ser e estar no mundo.

Por isso, para essa edição, resolvemos conversar com a Dra. Anne e trazer um pouco mais sobre essa rica Medicina, que tanto contribui na minha vida e certamente, vai tocar a sua também em alguma medida.

A nossa entrevistada tem uma linda história de aproximação com essa medicina. Ela nos conta que aos 30 anos foi acometida de uma nevralgia que não teve solução com as práticas convencionais e então resolveu tentar um outro caminho. Foi assim que conheceu a Antroposofia, e por ter um excelente resultado com o tratamento, sente-se no dever moral de possibilitá-lo a outras pessoas. Há 21 anos, começou a fazer as primeiras prescrições e revela que a cada dia sente mais entusiasmo.

Ela segue nos dizendo que a medicina Antroposófica é uma arte ampliada e assim sendo, incluímos o sentir em sua atuação. O olhar, a observação e percepção do paciente fundamentam-se no conceito de que o homem reside em um organismo vivo e animado e por isso, é portador de leis físicas e químicas, dogmas, cultura, padrões de comportamento, hábitos, sensações, emoções, desejos, mas também possui a condição de autoconsciência e, portanto, de juízo sob si mesmo. Possui a condição de refletir sobre o que pensa, sente e age. Isto caracteriza a constituição humana, a qual está inserida em um contexto cósmico e cumpre leis biográficas.

Esclarece ainda mais trazendo a perspectiva de que a compreensão do ser humano sob o olhar da Antroposofia apenas amplia o conhecimento da anatomia, fisiologia e fisiopatologia. E por compreender o homem como um ser portador de corpo, alma e espírito, este é analisado e diagnosticado nestas três esferas, refletidas no pensar, sentir e agir humanos. Num trabalho de fundamentação antroposófica, seja nas artes, medicina, pedagogia, agricultura, economia etc, sempre é feito um caminho que segue em direção ao encontro, a harmonia, ao equilíbrio de forças polares no propósito de viabilizar uma atuação superior. Por isso, salienta que é preciso trabalhar com atenção, com presença, tempo suficiente e calma interior.

O tratamento com base nessa medicina envolve vários âmbitos: eurritmia curativa, terapia artística com pintura, modelagem, desenho de forma, cantoterapia, aplicações externas com compressa, emplastro, deslizamento rítmico; massagem rítmica; aconselhamento biográfico e medicamentos. Tendo tudo isso integrado dentro de um mesmo princípio, certamente o indivíduo será dono de uma condição bem especial e segura de atuação.

Um outro ponto interessante dessa conversa o que fica demarcado é que quando se fala em Medicina Antroposófica, convém ressaltar que a acessibilidade ainda é bem restrita aqui no Brasil. Na Europa, todos os ramos fundamentados na Antroposofia, atuam em instituições públicas; ou se não, recebem apoio. Já há uma divulgação mais ampliada e um reconhecimento maior de tais práticas. Em nosso país, estamos caminhando para essa ampliação, conscientes de que tudo acontece no tempo certo.

Para a Dra Ane, um médico antroposófico, é antes de tudo, médico. Muitos têm suas especialidades, mas na atuação isso não importa muito, porque sua prática médica está focada em olhar para um todo, conscientes de que este todo se encontra também em cada parte. Nesse contexto, a medicina ampliada pela Antroposofia, apresenta-se como um caminho de grande abrangência da entidade humana e por isso é digna de atuar no mundo. Segundo ela, devemos trabalhar para que se torne uma oportunidade para todos.

Deixa ainda uma dica:
Para aqueles que têm o interesse em ampliar seu olhar sobre a doença, os doentes e a saúde, para todos que buscam um caminho de autoconhecimento e desenvolvimento, aqueles buscam respostas para perguntas existenciais, procurem um curso sobre os fundamentos básicos da Antroposofia. Existem vários no Brasil. A Antroposofia é um caminho de ampla abrangência do Cosmo, da natureza e da entidade humana e suas correlações.

Anne Jacqueline Braga
Médica pela UFS, especialista em endocrinologia pela SBEM, formação em Medicina ampliada pela Antroposofia pela ABMA, formação em Canto e Cantoterapia pela Escola Raphael do desvendar da voz de fundamentação antroposófica

Colaboradores

Anne Jacqueline Braga
Amanda Reis

amanda.reis@estimuladamente.com.br