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12/08/2020 Alimentação

Panela de barro, colher de pau

O pensamento de que o que é “humanamente” saudável também é “planetariamente” saudável, se aplica a quase tudo. Afinal, o planeta Terra é a casa dos seres humanos, e também o ventre que nos dá a vida. Então, se algo prejudica à nossa mãe, que nos alimenta, também nos prejudica. Tudo o que comemos vem do seio de nossa Mãe Terra.

Nesta edição, vamos abordar os materiais que compõem nossas ferramentas culinárias: panelas, colheres, tigelas, talheres… Falamos em alimentos e qual a melhor alimentação, e pouco sabemos sobre estes materiais e sua possível intervenção na composição final dos alimentos que ingerimos.

Em restaurantes e locais de venda de comida, as vigilâncias sanitárias exigem que os utensílios sejam de metal ou plástico, supostamente mais higiênicos no que se refere a germes ou micróbios. Estamos chegando a um ponto de preocupação com a higiene orgânica, que estamos sendo contaminados por toxinas inorgânicas, químicas. Estas geralmente não apresentam sintomas a curto prazo, como dor de barriga e diarréia, mas seu efeito é acumulativo e, quando aparece, costuma ser grave.

Para panelas, o alumínio costuma ser o material mais utilizado, pela praticidade e acessibilidade. Presente em desodorantes, cosméticos e nos agrotóxicos que estão em nossa comida, qualquer pequeno aporte extra pode ser demais. Segundo uma pesquisa realizada na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), da USP*, o excesso de alumínio “(…)causa inflamações, seu vapor afeta gravemente os pulmões e há estudos que mostram uma concentração de alumínio no cérebro de pessoas que morreram com mal de Alzheimer”.

A transferência de alumínio para os alimentos é praticamente a mesma quando as panelas são feitas deste metal ou de aço inox. Acontece quando o metal entra em contato com sal ou alimentos ácidos, como tomates e berinjelas. Dessa forma, reage e é ionizado, entrando em nosso sangue como um componente a mais. Se você usa panelas de alumínio, o ideal é evitar cozinhar com sal ou adicioná-lo ao final, e evitar armazenar a comida nestes recipientes. Para armazenar, o ideal são recipientes de vidro.

O ferro, nestas condições de contato com sal e acidez, também transfere metais nocivos, já que as panelas são feitas de uma liga de metais. O mesmo acontece com a pedra sabão, que libera níquel, segundo estudo da UNICAMP**. Quanto às panelas com revestimento antiaderente, há hipóteses de que o material, em contato com o calor e com alimentos protéicos, forme compostos possivelmente cancerígenos.

A solução é a simplicidade: segundo diversos estudos sobre materiais para panelas, as feitas de barro, sem esmalte ou tinta, não apresentam contra indicações. A panela de barro demora mais para esquentar, e logo mantém a temperatura por mais tempo, possibilitando que se apague o fogo bem antes de que os alimentos tenham completado o cozimento. Os utensílios de barro são usados há milênios pela humanidade, para cozinhar, comer, armazenar água e alimentos.

Colheres e outros utensílios culinários, como tábuas de cortar, geralmente são de metal, plástico, ou madeira. Quanto ao metal, valem os mesmos parâmetros das panelas. O plástico, quando aquecido, libera substâncias tóxicas e disruptores hormonais, que desregulam nossas funções endócrinas podendo causar problemas em nossas glândulas em geral: ovários, testículos, pâncreas, suprarenais, timo, tireóide, pineal e pituitária. Quanto ao silicone, há hipóteses de uma potencial toxicidade, porém não foram encontrados estudos conclusivos. Pessoalmente, prefiro evitar aquecer qualquer material que pareça plástico.

Mais uma vez, o simples e natural está ligado ao saudável: utensílios de madeira, ou de bambu, não transferem substâncias aos alimentos.

Alguns utensílios de bambu são colados apresentando possibilidade de que algum componente da cola possa ser liberado quando aquecido.

Quanto à higiene da madeira, evite lavar com sabão. Prefira uma esponja com água quente e deixe secar bem, ao sol ou próximo do fogão, para evitar fungos. Como a madeira pega o sabor, quem cozinha com alho e cebola prefere separar tábua de cortar e colheres de pau para alimentos salgados e doces, e assim evita-se transferir o sabor de cebola, por exemplo, a uma salada de frutas.

Estas mesmas observações sobre os materiais valem para tábuas de cortar, pratos, copos e tudo o que toque nossos alimentos sagrados. Outro material inerte, mas menos acessível e mais vulnerável, é o vidro, para panelas e tábuas.

O simples vai ganhando espaço em nosso modo complicado de viver. Tudo aquilo que podemos fazer em casa, com ferramentas manuais, agride menos nosso planeta e nosso corpo. Imagine de onde vem os metais, e todo o processo pelos quais passam até se transformarem em uma panela.

Você pode fazer seus próprios utensílios de cozinha, usando madeira, bambu e coco. Do coco lixado saem tigelas lindas e duráveis. Colheres e talheres de bambu, podem ser feitos com faca e lixa. E, com habilidade para a cerâmica, quem sabe manufaturar as próprias panelas, canecas e pratos de barro?

Para não passar mais uma edição sem receitas gostosas, trago a dica de uma iguaria simples, nutritiva, super saborosa, fácil de preparar, que pode entrar nos beliscos entre as refeições no lugar de biscoitos, salgadinhos e outras perdições industrializadas. E cujo resíduo pode se transformar em uma linda tigela.

Coco assado

Ingrediente: coco seco natural
Se quiser garantir que a casca do coco fique íntegra para produzir algum utensílio, corte no lugar desejado com uma serrinha de arco. Caso contrário, romper com um martelo traz formas espontâneas.
Antes de abrir o coco, faça um furinho para retirar e aproveitar a água.
Após aberto, retire a polpa e corte em pedaços pequenos que sejam do tamanho de um bocado.
Leve ao forno ou na frigideira, em fogo baixo por 10 -15 minutos, até dourar. Após esfriar, guarde em pote fechado. Se o clima estiver úmido, guarde na geladeira.
Fica parecendo cocada!

Para transformar a casca do coco em uma tigela, retire os pelos raspando uma faquinha. Logo passe uma lixa grossa ou lima, para alisar e suavizar ao toque.
Se quiser um efeito mais estético, passe óleo de coco por fora e por dentro para escurecer e dar brilho.

Referências:
http://www.usp.br/agen/repgs/2005/pags/287.htm
http://ve.scielo.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-06222006000300011

Luciana Guidoux Kalil
lunaca@mailoo.org

Colaboradores

Luciana Guidoux

lunaca@mailoo.org