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25/05/2020 Ciência & Espiritualidade

Meditação – Técnica inigualável de bem estar e crescimento humano

A força natural de cura existente em cada um de nós é a maior força que dispomos para chegar à saúde”. (Hipócrates – pai da medicina ocidental)

Ano: 1971
Local: Universidade de Harvard, USA.

O Dr. Herbert Benson, cardiologista da Universidade de Harvard, e o Dr Robert Keith Wallace, psicólogo, nos anos 70 do século XX iniciaram uma pesquisa pouco convencional: Avaliaram através do rigor do método científico, se a prática da meditação traz benefícios para o ser humano. A técnica meditativa selecionada para a experiência foi a Meditação Transcendental (MT), conforme divulgada no ocidente pelo sábio oriental Maharishi Maheshi Yogi que vinha divulgando este método no Ocidente. Basicamente este método consiste em você sentar em qualquer posição confortável, de olhos fechados, e repetir mentalmente durante vinte minutos um Mantra, um som secreto, que é transmitido ao meditador, e que este não pode revelar. Segundo a tradição hindu a que pertence Maharishi (tradição Shankaracharya) a origem deste mantras se perde nos tempos, e vem sendo transmitida oralmente de mestre para discípulos há mais de cinco mil anos.

O experimento de Wallace e Benson, consistiu em monitorar parâmetros fisiológicos, tais como o consumo de oxigênio, a freqüência cardíaca, a resistência elétrica da pele, os ritmos elétricos cerebrais (eletroencefalograma), e a concentração de ácido lático do sangue (produto químico relacionado com o stress). Trinta e seis indivíduos, sem deficiências físicas ou mentais, de ambos os sexos, com idade de dezessete a quarenta e um anos , foram selecionados aleatoriamente. Estes meditadores não possuíam praticas religiosas, dietéticas ou ritualísticas que pudessem interferir com a experiência.
Os resultados obtidos foram tão extraordinários que não só abriram novos caminhos para a medicina e a psicologia ocidentais, como também revelaram implicações importantíssimas para a educação, a administração, a religião, e as ciências humanas em geral. Durante a meditação, os meditadores alcançaram um nível de relaxamento muito mais profundo do que o do sono, até então considerado pela ciência o estado de maior repouso fisiológico, conforme evidenciado pela redução de 16 a 18% no consumo de oxigênio, contra 8% encontrado no sono.

Todas as outras medidas fisiológicas também apresentaram resultados extraordinários, confirmando a existência de um estado inigualável de repouso profundo. Os resultados da pesquisa de Wallace e Benson foram publicados numa conceituada revista científica americana, a Scientific American, com o título de Fisiologia da Meditação ,no volume 226, número 2, fevereiro 1972, página 84-90. A publicação deste trabalho, atraiu a atenção da comunidade científica internacional, porque o repouso é considerado pela medicina, a pré- condição básica para a ativação dos processos auto- organizadores e regenerativos que permitem a otimização de todos os aspectos da mente, do corpo e das emoções . Logo ,pesquisadores em universidades e instituições científicas, em todo o mundo, estavam investigando os efeitos psicofisiológicos benéficos da meditação. Graças a milhares de pesquisas, realizadas em mais de cento e cinqüenta instituições independentes, em vinte e sete países, como a Escola de Medicina de Harvard, a Universidade da Califórnia, a Universidade de Oxford, a Universidade de Lund na Suécia, o Instituto La Rochefoucauld na França, e publicadas nos mais prestigiados periódicos científicos mundiais como Lancet, New England Journal of Medicine, Journal of the American Medical Association, Circulation, Science, Nature, Psychosomatic Medicine, etc. comprovou-se que a prática da meditação é a técnica isolada que mais proporciona benefícios ao ser humano.

Nenhuma técnica pesquisada pela ciência, apresenta tantos resultados benéficos em diversas áreas, em tão pouco tempo. Entre estes destacamos: eliminação do stress e da ansiedade, redução da depressão, da insônia e das doenças psicossomáticas, normalização da pressão arterial e do peso, desaceleração do processo de envelhecimento e o conseqüente rejuvenescimento, aumento da eficiência cardiovascular e da saúde física e psicológica, melhora no desempenho acadêmico e atlético, aumento na média das notas escolares e na capacidade de aprendizagem, maior inteligência, memória e criatividade. Foi evidenciado ainda aumento da cordialidade, compreensão e bom humor, aumento da satisfação com a vida, e da freqüência de sentimentos prazeirosos e de felicidade, maior estabilidade emocional, aumento da energia, da eficiência e da paz interior, aumento da concentração, aumento da produtividade e do desempenho nas empresas, maior satisfação e motivação no trabalho, melhor relacionamento profissional, aumento da capacidade de comunicação e da capacidade de relacionamentos interpessoais que se tornam mais afetuosos e gratificantes, melhoria do desempenho e do desejo sexual, redução das neuroses, fobias e traumas, e redução do uso de álcool, cigarros, tranqüilizantes e drogas.
Atualmente Benson já publicou diversos livros sobre o tema e mais de 300 trabalhos em revistas científicas comprovado o dito acima

A Desmistificação dos mantras

Tudo isso era muito bom, mas o detentor dos mantras era Maharishi. Somente ele, e os seus instrutores autorizados, dominavam o segredo dos mantras. O Dr. Benson , como cientista, não negava a eficácia dos mantras, uma vez que ele mesmo tinha sido pioneiro na demonstração experimental dos benefícios físicos, emocionais e sociológicos da Meditação Transcendental. Entretanto, ele questionava a exclusividade dos mantras, como desencadeadores de tais benefícios. Além do mais, este mistério acerca dos mantras era incompatível com o espírito científico, e a popularização da técnica. Benson tinha convicção de que não eram os mantras os responsáveis finais pelos benefícios observados, e sim uma resposta neurofisiológica de relaxamento, há muito buscada pela ciência, em oposição à resposta de luta e fuga do stress. Benson resolveu então, testar experimentalmente esta hipótese com o apoio do próprio Maharishi. Para isto, selecionou aleatoriamente um grupo-controle de meditadores da MT que meditavam com mantra, e um outro grupo de não-meditadores, aos quais ensinou a meditar com um pensamento-foco, que era a palavra “one” (um, em inglês), no lugar dos mantras da MT.

Os resultados da experiência foram conclusivos, uma vez que os meditadores que utilizaram o pensamento-foco “one”, obtiveram os mesmos resultados fisiológicos, que os praticantes da meditação transcendental. Caía pôr terra o mistério e o dogma do mantra. Não eram os mantras secretos da MT, os responsáveis pelo profundo relaxamento observado nos experimentos científicos, uma vez que qualquer palavra escolhida aleatoriamente, como foi o caso do pensamento-foco “one”, produzia os mesmos resultados. Era um processo neurofisiológico, auto-induzido através da repetição mental de qualquer som, que produzia os benefícios observados. Benson descobrira a Resposta de Relaxamento. Um processo fisiológico auto-organizador oposto à resposta de stress. Em 1975, Benson descreveu esta descoberta em seu livro “The Relaxation Response.” e seu trabalho já faz parte da história da medicina, psicologia e espiritualidade.

O conceito e a prática da resposta de relaxamento, difundiu-se mundialmente, a ponto de atualmente ser sinônimo científico para a palavra meditação. Além disto, tornou-se a prática meditativa mais indicada para desenvolver o bem-estar e o potencial humano por grandes expoentes da medicina , psicologia, educação e administração, tais como Dr. Kenneth Cooper, Dr Dean Ornish, Dr Carl Simonton, Dr. Bernie Siegel, Karl Albrecht, Spencer Johnson e Steven Halpern.

No final dos anos 70 e início dos anos 80 instrutores dissidentes da MT, como Frank Kaleda, Susan Scott, John Weldon e Zola Levitt, vieram a público divulgar os mantras da MT. Soubemos então tratar-se somente de dezesseis mantras que eram atribuídos ao iniciante de acordo com a faixa etária a que pertencia Nossa própria experiência clínica, confirmou a exatidão das informações divulgadas pôr estes dissidentes.
Como meditar e assumir o controle do seu bem-estar físico mental e emocional.

Não existe um método único para provocar a Resposta de Relaxamento. Há muitas maneiras de trazê-la à tona .

O Dr. Herbert Benson em sua pesquisa notou que os povos orientais e ocidentais, através de muitas culturas e religiões, desenvolveram milhares de métodos históricos para produzir a Resposta de Relaxamento.

No entanto, parece haver quatro elementos básicos sustentando a produção da Resposta de Relaxamento, independente de sua fonte cultural.

O primeiro elemento é o ambiente tranqüilo.
A pessoa precisa “desligar-se” não só dos estímulos internos como também das distrações externas.

O segundo elemento é uma posição sentada, confortável e ereta, para que não haja tensão muscular.

O terceiro elemento é um ponto de referência para fixar a atenção.
Pode ser a repetição mental ou verbal de um som ou palavra, olhar um objeto ou símbolo, pensar num sentimento especial, ou atentar para determinada parte ou função corporal (geralmente a respiração).

O quarto elemento é uma atitude despreocupada.
Quando ocorrerem pensamentos que distraiam, eles deverão ser registrados calmamente e sem culpa, e a atenção novamente reconduzida de maneira despreocupada à repetição mental ou observação do objeto. Não desejar acabar com as divagações mentais e não se preocupar com uma boa atuação durante a prática meditativa é fundamental. Esta atitude despreocupada e passiva parece ser o fator mais importante na produção da

Resposta de Relaxamento.

Desde que contenha os quatro elementos básicos acima descritos quaisquer das técnicas meditativas antigas e tradicionais produzem a resposta de relaxamento e seus benefícios.

O conhecimento dos quatro elementos básicos para a produção da Resposta de Relaxamento também nos permite elaborar uma técnica moderna, secular, sem as conotações místicas e esotéricas das práticas tradicionais.

Eis um método atual de trazer à tona a Resposta de Relaxamento e seus benefícios:

1- Escolha um lugar tranqüilo onde você não possa ser perturbado por ninguém.
Com o tempo de prática você conseguirá meditar em qualquer lugar, mesmo onde haja barulho que possa distrair: ônibus , trem, metrô, barca, bar, banco de parque etc. Entretanto, tanto quanto possível, é melhor arranjar-se de maneira que não possa ser perturbado por aproximadamente trinta minutos.

2- Sente-se em qualquer posição confortável, com as costas retas.
Durante a meditação a cabeça poderá tombar para frente ou inclinar-se para um lado. Não se deve usar nenhum esforço consciente para evitar isso, porém quando se percebe que o mesmo ocorreu, deve-se, gentilmente, levantar a cabeça e voltar à posição ereta. Se começarmos a meditar em uma posição e descobrimos que ela se tornou desconfortável, não há nada de errado em mudá-la, sem movimentos bruscos, durante a Meditação. Igualmente, se sentimos um impulso repentino de coçar o nariz, espirrar, tossir, ou seja lá o que for, não devemos reprimir ou tentar ignorar essas necessidades. Podemos também abrir um olho ligeiramente para olhar para o relógio e ver como o tempo está passando. Como a quietude é fundamental para se produzir a Resposta de Relaxamento , somente não se deve deixar que tais necessidades aconteçam facilmente.

3- Feche os olhos.

4- Alongue e relaxe os músculos do corpo, espreguiçando-se prazeirosamente como faz um gato.

5- Repita mentalmente, de modo lento, o pensamento – foco Uan.
O Dr. Benson habitualmente recomenda a repetição mental contínua do número 1, one em inglês, cuja expressão fonética é uan. Mantenha a repetição mental por vinte minutos. Quando terminar permaneça sentado calmamente or alguns minutos, primeiro de olhos fechados e depois abertos. Abra seus olhos vagarosamente, olhe para o chão, evitando qualquer fonte de luz. Não se levante por mais alguns minutos. É o tempo de adaptação à experiência cotidiana. Após isto, levante-se e reassuma suas atividades.

6- Não se preocupe com o modo como está indo a sua meditação.
Esta é a atitude fundamental para provocar a resposta de relaxamento. Não tente controlar seus pensamentos. Não deseje que as divagações não venham. Se um pensamento vier, não tente empurrá-lo para fora. Sempre que você se tornar consciente de que está divagando volte calma e tranqüilamente, sem culpa, a recitar mentalmente o pensamento-foco UAN.
Se outros pensamentos estiverem juntos com o pensamento-foco não se importe com eles e não tente removê-los. Despreocupadamente dê mais atenção ao pensamento-foco do que aos demais pensamentos.

7- Exercite a técnica duas vezes por dia.
Mas nunca a pratique menos de duas horas depois das refeições, pois o processo de digestão interfere com a tentativa de produzir a Resposta de Relaxamento. Os períodos mais adequados para a prática são de manhã cedo antes do desjejum, e ao cair da tarde antes do jantar.

Quanto ao pensamento-foco você pode utilizar a frase ou palavra que lhe for mais conveniente. Algumas pessoas preferem meditar utilizando um pensamento-foco de conotação religiosa tais como, Jesus, Shalom (paz), Abba (pai), Aum, Hare Krishna, Salaam Aleikum (a paz esteja convosco), Om Shanti (a paz esteja convosco), Om Mane Padme Hum (salve o Deus que há dentro de você). Entretanto, uma vez escolhido o pensamento-foco,não fique trocando-o a cada meditação. Utilize sempre aquele pensamento-foco que você escolheu se UAN não o agradou.

Mantenha a prática diária e contínua da meditação. Ela irá lhe trazer gradualmente e sem esforço, os múltiplos benefícios que a caracterizam.

Algumas observações que podem facilitar sua prática:

* Não tenha expectativas com relação à experiência proporcionada pela resposta de relaxamento. Habitualmente a experiência meditativa é uma sensação de paz, de tranqüilidade. Todos nós já a sentimos alguma vez.
* A resposta de relaxamento gera benefícios durante e após sua prática. Busque não ultrapassar o tempo de vinte minutos de prática diária, duas vezes ao dia: a resposta de relaxamento tende a ser improdutiva quando freqüentemente praticada além desse período.
* As divagações, distrações e pensamentos ocorridos durante a prática da resposta de relaxamento são sinais de uma boa prática meditativa. Segundo o Dr. Kanellakos, da Universidade de Stanford, este fenômeno indica eliminação de estresses e um estado de auto-organização e regeneração orgânica durante o processo meditativo. Somente lembre-se de uma coisa: sempre que você tomar consciência de que está pensando ou divagando durante a prática da resposta de relaxamento, retorne calmamente, sem culpa, ao pensamento – foco UAN. Assim, você estará meditando muito bem.
* Durante a meditação, o ritmo cardíaco e a respiração diminuem acentuadamente. O sangue flui para toda a musculatura de maneira mais abundante, havendo um aumento de sua temperatura corporal. Por isso, você poderá suar durante a meditação. A percepção de tempo poderá ser alterada. Você pode achar que os vinte minutos durante os quais você meditou passaram muito rápido ou que demoraram a passar.
* Durante a prática de resposta de relaxamento, é muito comum a ocorrência de movimentos musculares involuntários, inquietação, coceiras, tosses e espirros. Estes fatos acontecem, principalmente, nos iniciantes, podem também ocorrer sentimentos de que se está praticando errado a técnica, de que a resposta de relaxamento não está adiantando em nada, de que você está perdendo tempo. Pode surgir até mesmo vontade de parar de meditar. Tudo bem! Todas essas manifestações também são sinais de eliminação de estresse e auto – regeneração orgânica. Se você não se deixar perturbar por elas e continuar a prática meditativa, elas desaparecem.

Francisco Di Biase
Neurocirurgião e Neurologista, Pesquisador da Consciência e da interação Mente-Cérebro.

Colaboradores

Francisco Di Biase