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20/05/2019 Empresas Conscientes

Quanto tempo o tempo tem?

A mitologia grega sempre nos presenteia com metáforas realmente surpreendentes para a vida, lições que, quando compreendidas, podem fazer toda a diferença em nossa forma de pensar e agir.

Em uma delas Zeus, o deus rei do Olimpo, enfrenta seu pai, o titã Cronos, pelo poder de todo o Universo.

Ocorre que Cronos resolveu engolir todos os deuses que sua esposa Gaia desse à luz, para evitar ser derrotado por um deles, como propunha uma profecia.

O curioso é que na mitologia grega a tragédia sempre ocorre justamente porque os envolvidos tentam evitar a tragédia e fugir de seus destinos.

Neste caso, Zeus foi poupado por meio de uma artimanha de sua mãe e, assim, volta, liberta seus irmãos da barriga do pai e, em uma batalha épica, vence e aprisiona os antigos titãs.

Um fato curioso pode ser compreendido quando Zeus derrota o titã que comanda o tempo e o aprisiona em posição fetal, criando, assim, o sentido cíclico dos dias e anos. Mas, além disso, a vitória de Zeus sobre Cronos dá ao mesmo a suprema habilidade que o coloca no topo do Olimpo: a habilidade de controlar o tempo!

Para os gregos o poder que Zeus tem para dominar o tempo é até mais importante do que sua capacidade para dominar o poder dos raios.

Ao que parece, muito melhor do que nós, os gregos já entendiam que dominar o tempo é uma habilidade que liberta nossos maiores poderes, nos desaprisionando da Matrix.

E não há dúvida, somos hoje em toda a história a geração que mais faz coisas com seu tempo, cujo sentido e valor são quase nulos.

Ocupamos profundamente nosso tempo com atividade que não trazem nenhum benefício e que, ao mesmo tempo, nos alienam de nosso verdadeiro propósito e potencial.

Não nego que toda pessoa tem direito de “perder algum tempo” e que todo tempo que eu perco conscientemente não é necessariamente tempo perdido.

Mas será que realmente temos consciência de como nossos atuais hábitos nos fazem perder tempo? Será que percebemos como este tempo, nosso único e maior bem irrevogável, se escoa pelos nossos dedos?

Hoje o maior vilão que nos aliena, aprisiona e apequena são, sem dúvida, as redes sociais. Isso porque nos tiram muito, dando muito pouco em troca.

Segundo diferentes pesquisas, em média, um brasileiro acessa até cem vezes por dia seu celular, sendo a maior parte deste tempo dedicado a WhatsApp, Instagram e Facebook.

Estamos falando de um tempo de até 4 horas e meia por dia dedicado a esta atividade que vem inclusive modelando nosso cérebro para uma redução do hábito da leitura, do aumento significativo da depressão, da ansiedade e da redução de nosso poder de foco.

Estudos recentes têm demonstrado que o uso abusivo das redes sociais e nossa obsessão por likes geram efeitos tão nocivos em nosso cérebro como o uso de drogas, pois eleva nossa dependência da liberação de dopamina e serotonina de forma rápida, sem uma razão realmente significativa ou contrapartida real para tanto.

Além disso, as redes sociais criam uma ilusão de autoimportância que virou uma verdadeira febre. Ao melhor estilo “Black mirror”, se somos populares achamos que somos importantes e se não o somos temos que nos esforçar mais para sê-lo.

Não entendemos que nossa relevância não está na quantidade de pessoas que nos seguem, mas na profundidade e complexidade afetiva que você consegue dedicar a estes relacionamentos. Logo, nos tornamos rasos nas coisas e comentários que fazemos, e o Facebook , Instagram e o Youtube acabaram por se tornar uma terra de gente rasa e covarde que distribui seu ódio e comentários protegidos pela distância de uma tela de computador. Tornamos-nos grandes críticos de tudo e todos, porque assim sentimos que o que pensamos tem valor, sem entender que nosso verdadeiro valor está em nossa habilidade de promover melhorias no mundo em que vivemos.

Sou pouco esperançoso quanto ao futuro da humanidade se não promovermos um forte saneamento de nossos hábitos associados a este tipo de universo fantasioso. Como uma pessoa que se aproxima dos cinquenta anos (um dinossauro da era pré-internet), percebi claramente a deterioração da qualidade dos relacionamentos e o emburrecimento emocional de nossa sociedade pós advento das redes sociais.

Esta mudança já impactou drasticamente também o ambiente de trabalho, e hoje gestores passam boa parte de seu tempo tendo que resolver problemas criados pela baixa inteligência emocional dos membros de sua equipe.

Para ser mais preciso, em torno de ¼ do tempo de um gestor é perdido com esse tipo de situação.

Além disso, pessoas que estão acostumadas a “receber likes”, não sabem lidar bem com o “deslike” de seus trabalhos ou desempenho, o que torna o processo de feedback e desenvolvimento de equipes muito mais complexo e até chato.

Também são poucas as pessoas que entendem que não somos mais pagos pelo tempo que dedicamos ao nosso trabalho (um dos pressupostos da produtividade proposta por Tylor), mas sim pelos resultados que geramos com ele.

No mundo da inteligência estratégica, existem pessoas que com uma hora do seu trabalho produzem mais valor do que dúzias de pessoas com o tempo dedicado com um ano de seu trabalho.

Mas, por não compreenderem este simples fato, ainda vemos muitas empresas e pessoas preocupadas em mostrar que estão trabalhando ou tentando controlar o tempo trabalhado por seus funcionários.

Como seria um mundo em que as pessoas têm consciência que seu tempo é o seu bem mais precioso? Como seria este mundo no qual percebemos que tudo o que obtemos é fruto do escambo que optamos fazer de nosso tempo por outras coisas?

Um novo mundo e uma nova forma de trabalhar estão surgindo e as oportunidades só estarão disponíveis para quem realmente aprender a entender que o tempo é a medida de todas as coisas.

Quem dominar o tempo, assim como no caso de Zeus, liberará o supremo poder em sua vida: o poder de fazer escolhas!

No fundo ninguém pode fazer gestão do tempo, pois, para bem ou mal, o tempo é um só e ninguém tem mais do que 24 horas em seu dia.

Logo, tudo o que podemos fazer é escolher com sabedoria, sentido de prioridade e valor as atividades que assumiremos dentro do tempo que temos.

Por isso é preciso pensar sempre: o que estou fazendo vale o tempo que eu invisto?

Se você entende que sim, então tenho certeza que nunca será tempo perdido.

Mas se a resposta for não, não perca tempo e tire esse hábito, pessoa ou atividade de sua vida, pois no final das contas a vida é apenas uma sucessão de minutos que podem ser bem ou mal vividos.

Colaboradores

Eduardo Almeida

edu@cgrp.com.br