01/01/2019 Capa
Resiliência – Uma lição com Geraldo Rufino
Caros Leitores, para encerrar o ano de 2018 resolvemos falar sobre resiliência. Para isso convidamos alguém que pudesse nos dar um bom exemplo de como a resiliência pode nos transformar.
Geraldo Rufino é empreendedor, escritor e palestrante, iniciou a vida como catador de latas na periferia de SP, fazendo suas primeiras investidas como empreendedor aos oito anos. De office-boy à diretor de operações no PlayCenter, ele sempre entendeu que precisava empreender mesmo no CNPJ de outros para garantir sua estabilidade e segurança familiar. Quebrou seis vezes, sendo a última em 2003 depois de um investimento malsucedido. Nunca levou esses episódios como algo desesperador. Ao contrário, olha para todas essas experiências como algo extremamente positivo e enriquecedor. Em 1985, ao fundar a JR Diesel, quebrou paradigmas e transformou o segmento de desmanche de veículos aplicando organização e inovação.
Em 2016 escreveu o “livro catador de sonhos”, que conta como o empresário que começou catando de latinhas e construiu uma das maiores empresas do Brasil e nos ensina sobre otimismo, superação e determinação.
O livro se tornou sucesso e o levou para todo o Brasil e outros pontos do globo para falar de como conseguir reverter a sua condição na infância e o levou a chagar onde chegou.
E um dos segredos é não ter se vitimizado, não ter se visto como inferior a ninguém e nunca ter fraquejado diante das dificuldades impostas pela vida. Mais do que isso, ele se fortaleceu a cada tombo.
Nesta entrevista veremos o onde os nossos valores, o respeito a nossa ancestralidade e a gratidão pode nos levar.
Revista Estimuladamente – Notadamente os seus valores, a sua família e a gratidão podem ser destacados como 3 pilares da sua base. O que lhe fez superar cada entrave. Pode nos falar um pouco sobre o quanto cada um destes pesa para ter uma vida de significado?
Geraldo Rufino – Você levantou de manhã? Não tem gratidão maior que essa. A minha maior gratidão é por esse presente: o direito de mais um dia de vida. Depois que você levanta e percebe que tem mais um dia, você olha pro lado direitinho, usando sua imaginação e lembra que, independente da relação sanguínea, você tem uma família. Família. Família é base de tudo. Família começa desde onde você nasceu, porque se você tem vida, você nasceu de uma mãe. Então ali parte a origem, a referência da sua família e dali se constitui muitos outros relacionamentos e conexões com pessoas que é a continuação da família. Quando você vai pro trabalho e convive com outras pessoas, seja lá qual for o ambiente em que você estiver, depois de sair de casa ou de sair do ambiente em que você nasceu, você se conecta com outras pessoas, que do meu ponto de vista, é a extensão da família, porque família não tem nada a ver com relação sanguínea, pra mim família são as pessoas com quem você se conecta e vive durante todo período que você fica nesse Universo. Então, a sua família não tem limite, não tem tamanho. “Ah, eu não tenho família”. Como assim? Ninguém vive sem família. Você precisa se conectar. Você convive com pessoas! Essas pessoas ou são a sua família de origem ou são a extensão da sua família, à medida que você cria uma conexão e um relacionamento de semelhança. É o meu semelhante, é o meu irmão, aquelas coisas que nós aprendemos lá atrás. Nós somos iguais, convivemos com os diferentes e com as diferenças. E se você não tem família, você constitui uma. Então a família pra mim é a base de tudo. Eu tenho gratidão. Isso faz toda diferença na minha vida, por ganhar o dia. Depois, eu preciso das pessoas e essas pessoas começam na minha família. Quem é a minha família? São as pessoas com quem eu convivo, com quem eu passo a maior parte do meu tempo, então eu faço com que isso se transforme na minha alegria, na conexão. Na extensão daquilo que eu entendo que somos interdependentes. Uma família. Se você não tem, você precisa constituir, porque ninguém vive sozinho, ninguém é feliz sozinho. Essa é a base dos meus valores. O resto é uma consequência. É preciso ter base, é preciso ter valores, nós vivemos incompletos, inacabados, em todos nós falta um tijolinho, todos nós precisamos de um tijolinho a mais todos os dias e a nossa obra vai até o final, quando a gente acha que ela está terminando, acaba o nosso tempo, ou seja, nós morremos inacabados, o que significa que nós precisamos aproveitar e se completar com a família, completar com as pessoas com quem a gente convive, completar convivendo com os diferentes, as diferenças, então isso pra mim é base, isso pra mim são valores. É dali que você tira os melhores exemplos, os melhores mentores, as melhores companhias. E se você acha que é aí que moram os piores problemas, eu digo que não, acredito que dali saem os anticorpos. Pra você usufruir do melhor, você precisa de anticorpos, eu entendo que o pouco que acontece nesse grupo, que a base é a família, que a gente não aprova é justamente o que nos fortalece, que é o que eu chamo de anticorpos.
RE – Qual a definição de Resiliência por Geraldo Rufino?
GR – Pra mim, a resiliência está dentro de cada um de nós. Precisamos entender a nossa essência, que nós somos a semelhança divina, que nós temos poderes, que nós temos habilidades metal, espiritual, nós temos capacidade para resolver qualquer problema que venha depois de nós. Mas por algum motivo, nós temos também as fraquezas, então a falta de resiliência faz com que nós deixemos que a franqueza supere a nossa iniciativa, a nossa espiritualidade, a nossa fé e a gente vai se definhando. Resilientes são aqueles que voltam, resgatam a origem, resgatam a força interior que tem dentro de nós e supera essa fraqueza. Pra mim resiliência é uma força que tem dentro de cada um de nós, que de vez em quando, por algum motivo, nós deixamos de exercitar por conta de baixa auto-estima ou por deixar de acreditar, e à medida que nós voltamos a acreditar, nós resgatamos nossa força e superamos e passamos a ser novamente resilientes. É um estado de espírito que pode ser recuperado a qualquer momento, por qualquer um de nós, só precisa querer.
RE – Em suas palestras você fala muito de positividade e protagonismo. O povo brasileiro carece disso?
GR – Todos nós podemos e devemos ser protagonistas. O sucesso acontece quando nós nascemos, eu acredito nisso. Essa espiritualidade, essa força, esse milagre de você ser um ser vivo já é sucesso. Agora para você ser protagonista, você precisa ter iniciativa de dar o primeiro passo e assumir a responsabilidade da sua própria vida. Agora, positividade. Todos nós somos abastecidos, mentalmente através de pensamentos, o nosso cérebro se abastece e processa pensamentos. Tudo que você pensa é processado de alguma forma e volta pro seu Universo e se materializa, então o positivismo, e eu venho fazendo isso a minha vida inteira, faz toda a diferença naquilo que você está armazenando, naquela informação que você está dando para você mesmo, pro seu subconsciente, pro seu cérebro, pra sua fé, pra sua espiritualidade, pra essa conexão de coisas que você tem mentalmente que você às vezes nem entende, mas que você sabe que funciona. Você precisa abastecer como se fosse um programa, como se fosse um software, isso ocorre através dos pensamentos, então essa coisa de pensar positivo, é você colocar no seu cérebro, no seu subconsciente, no seu sistema o melhor programa, o melhor programa que você pode abastecer a energia, a inteligência, tudo que você tem de melhor é através da positividade, porque quando você pensa de forma positiva, isso vai ser processado de forma positiva. O povo brasileiro, e não só ele, por falta dessa conexão, de acreditar em si mesmo, por falta dessa espiritualidade que existe internamente dentro de cada um de nós, por falta de fé, acaba não acreditando. Essa falta de crença, que eu chamo de negativo, faz com que você armazene e processe o negativo, então é claro que o seu universo vai estar ao contrário, vai estar de ponta-cabeça. Então eu acho que nós brasileiros, precisamos ser mais positivos, acreditarmos mais em nós, por consequência, vamos acreditar nos nossos, vamos acreditar na nossa segunda mãe, que é onde nós nascemos, que é o nosso território, o nosso país, é o nosso lugar. Eu entendo que o positivismo fez toda diferença em toda minha trajetória de vida, dos 7 aos 60 anos e com certeza faria muita diferença em todo mundo que voltar a acreditar, todo mundo que realmente pensa o positiva ao invés do negativo, porque seu cérebro vai processar igualmente. Eu sempre costumo dar pro meu cérebro, pro meu subconsciente, pra minha espiritualidade, aquilo que me interessa ser processado, por isso eu penso positivo, e isso que, geralmente, ele tem feito todos esses anos, é o processo que meu cérebro faz de trazer essa positividade de volta pra mim, e é isso que abastece meu universo. E é isso que eu entendo que está faltando pro povo brasileiro: voltar a acreditar, partindo do ponto de acreditar em si mesmo, depois você escolhe a opção, a religião, o que você quiser. Mas, essa espiritualidade não tem nada a ver com religião, é um jeito de pensar e você resgatar na sua essência e entender que desde que o mundo é mundo, as pessoas precisam acreditar, então a positividade, tem a ver com a crença e isso muda toda energia a sua volta e o que povo brasileiro está precisando mais que é acreditar. Quando você acredita, quando todo mundo acredita, nós temos capacidade para mudar o Universo. Então, eu realmente acredito, aliás, quando eu falo em uma palestra, nas redes sociais, não é só o que eu imaginei ou li em algum lugar, é o que eu venho fazendo há 50 e poucos anos, é prática. Quando você pensa positivo é esse resultado que você traz pro seu universo, é isso que você vive, é isso que você consome. Então, o povo brasileiro precisa produzir para consumir e nós temos produzido muito negatividade, acreditando muito que nós somos fracos, que é difícil, que está complicado e é isso que se vem consumindo. Eu ando consumindo só coisas boas, porque eu acredito que dentro do meu universo eu posso tudo, com certeza faz muita diferença, o jeito de pensar, por isso eu acho que o pensamento positivo faz toda diferença na vida de qualquer pessoa e vai fazer muita diferença pra nós brasileiros e pro nosso país, à medida que nós voltarmos a acreditar, por consequência, nós voltamos a ter fé e aí retoma a esperança. Olha o significado do pensamento positivo! E quando se tem esperança, tudo em volta começa a funcionar.
RE – Relação crise x oportunidade. Como virar essa chave?
GR – Na realidade, a crise é uma constante. A vida toda, o dinheiro e os outros bens, no geral a própria natureza muda de lugar. Então a crise é nada mais, nada menos, principalmente a crise material, a crise financeira ou econômica, é uma mudança constante que vai acontecer a vida inteira, é quando o dinheiro troca de mão. Porque ninguém põe fogo, ninguém elimina, nem para de produzir riqueza, ninguém deixa de produzir dinheiro, ele só paralisa, ele só fica parado em algum lugar por algum motivo, durante algum tempo, até que aconteça algum fato novo e ele volte a circular. Ou seja, crise versus oportunidade, a crise existe porque o dinheiro por algum motivo está circulando menos, mas ele está lá, a oportunidade é quando você sai do sofá, sai da sua zona de conforto e vai de encontro, à procura dos meios, ou seja, o dinheiro está em outros lugares. Quando você olha de forma mais ampla, você começa a enxergar o que eles chamam de oportunidade, porque lá tem dinheiro, ou seja, tem muita oportunidade, porque ninguém põe fogo no dinheiro. Então, todas às vezes que eu olho pras coisas, eu entendo o seguinte: nós temos – só no nosso país – 206 milhões de consumidores, ninguém parou de beber, de comer, de vestir, de dormir, o que significa que alguém precisa consumir aquilo que você resolveu produzir. A oportunidade aparece à medida que você tem iniciativa, atitude de querer fazer a diferença, de impactar alguém ou fazer alguma coisa para você e mais alguém. Isso é que mexe com a crise, quando você se mexe, a crise se mexe com você. Se ela é positiva ou negativa, isso depende do seu movimento. A crise vai existir a vida inteira, a oportunidade também, a hora que você se movimenta, você movimenta as oportunidades, então você tem acesso a valores. A crise dá espaço para quem se movimenta, porque a oportunidade sempre será maior que a paralisação do dinheiro.
RE – Em uma das suas apresentações no TEDx você comentou sobre o fato de você não ter traumas do que viveu no seu passado de catador de latinhas. Sua resposta foi que a partir disso, criou anticorpos. Viver a vida sem se vitimizar te levou a chegar aonde chegou?
GR – Viver a vida sem se vitimizar. Isso tem uma força! Porque eu entendo que todos nós somos filhos da mesma energia e Deus não tem tempo de “sacanear” ninguém. O que acontece com você pode ser usado de lamento, de vírus ou de anticorpos. Mas você tem livre arbítrio, você tem opção de escolha. O tempo que se demora pra lamentar é muito mais dispendioso que o tempo que você demoraria pra criar, pra se movimentar, pra ter iniciativa, pra ter atitude, só depende de você. Você tem energia pras duas coisas, então se ao invés de se lamentar, você der um passo à frente, entender que você é um ser humano como todos os outros e se foi possível para outros, é possível pra você, depende do movimento que faz cada um, depende das crenças de cada um. Então você se livra das suas falsas crenças, de quando alguém disse pra você que você não podia, que era difícil e renove essa crença, entendendo que você é igual, que você tem espiritualidade igual, que você é um ser humano igual e que não é nem mais nem menos inteligente, você é um ser humano. Se o outro pode, você também pode, porque você é um semelhante. Aí você vai perceber que o vitimismo é a zona de conforto e verá que deve ser o protagonista. Ser o cara que faz a diferença. Então eu não tenho dúvida nenhuma que o fato de que quando eu era criança minha mãe ter dito pra mim a vida toda que eu podia, me fortaleceu na minha autoestima, permitiu que eu nunca fosse pra zona de conforto, por vitimismo ou por coitadismo, o que permitiu que eu fosse blindado desde pequenininho e isso vem fazendo diferença na minha vida toda. O vitimismo pra mim é um vírus, uma doença, mas que pode ser superado com fé, seguida de atitude e pensamento positivo.
RE – Você é apaixonado por si mesmo. Em suas palavras: “blindado”. Esse amor próprio lhe ajudou a desenvolver sua resiliência?
GR – Eu acredito que todo ser deveria ter paixão por si mesmo. Isso pra mim é fantástico. Quando você se apaixona por você mesmo, você naturalmente se blinda. Porque se você gosta de você, jamais vai deixar que o seu ser fique chateado, magoado, com baixa auto-estima ou se sinta menor, porque tudo isso só traz para você sintomas de depressão. Se você realmente tem paixão por você está feita a blindagem, porque quando você se apaixona por você, não permite que nenhum desses pensamentos ou reações negativas te atinjam, porque quem faz isso somos nós. Não importa o que o outro pensa, fala ou acha. O outro é o outro, ele não sabe nem o que está falando, ele não sabe de você. Quem sabe de você é você. Quando você se apaixona por você, quando você entende o valor que tem, quando você sorri pra si mesmo e entende que você ainda tem o suficiente de energia e de alegria pra compartilhar com o próximo, porque não se blindar? Esse é o meu melhor status. Essa é a minha melhor performance. É quando você entende que você é a cereja do bolo. Você é o diamante da sua vida. Então, já reconheceu? Então agora se blinda. E não deixe que nenhum tipo de pensamento pequeno atinja você. Eu não tenho dúvida que a paixão que eu tenho por mim faz toda diferença na minha auto-estima, na minha blindagem, na minha resiliência. Eu realmente reconheço que eu sou um ser de luz e abençoado. Privilegiado! Não teria porque eu não blindar nesse estágio e não permitir que acontecesse nada diferente! Eu realmente sou apaixonado por mim. Aliás, ultimamente, eu ando me amando mais ainda…
RE – Você conta que já “quebrou” meia dúzia de vezes. Em uma delas, o prejuízo foi de 16 milhões de reais. Qual aprendizado a falência financeira trouxe para sua vida?
GR – Quando se comenta esse negócio de “quebrar” 5 ou 6 vezes, isso pra mim, é muito relativo, se foram 4, 5 ou meia dúzia. Nunca fez diferença negativa. Dessas vezes que falam que eu “quebrei”, que eu fali, que eu fracassei. Eu não “quebrei” necessariamente, eu não fali e muito menos fracassei. São períodos em que eu fiquei sem dinheiro. As pessoas fazem muita confusão com isso. O ser humano é muito maior do que isso. E quando ele tem algum recurso material, foi ele quem ganhou. Tudo que acontece embaixo de você é menor que você, tudo que acontece depois de você é menor que você. Quando você consegue recurso foi você quem conseguiu, quando você fica temporariamente sem recurso, aquilo não pode ser maior que você. Todas as vezes que eu fiquei sem dinheiro, aquilo serviu pra mim de aprendizado, de vivência, de experiência, eu sempre me preocupei com meus valores,e meus valores não são medidos em números, eles são medidos em credibilidade, em ética, em gratidão, em conexão com pessoas, convivência com os diferentes, conviver com as diferenças. Eu sou muito forte nos meus valores, e esses valores é que me permitiram acreditar em mim, ter a resiliência, ser forte o suficiente pra entender que é o que eu posso fazer pelo outro, e não o contrário, então eu estou sempre entendendo que eu posso ser produtivo para ajudar mais alguém. Essa força, essa resiliência vem dos meus valores, o dinheiro vem por consequência. Portanto, todas as vezes que eu fiquei sem dinheiro, esse foi o menor dos meus problemas, por isso a facilidade em ganhar de novo e ganhar sempre um pouquinho mais do que o que eu tinha anteriormente. Por quê? Porque eu já vim com anticorpos.
RE – Hoje, você é dono da JR Diesel, que é referência na américa Latina no ramo de reciclagem automotiva. O que você considera essencial para conquistar o sucesso nos negócios?
GR – JR Diesel. Um mercado fantástico. Nós temos a primeira empresa, já fizemos um monte de trapalhadas, comprando outras coisas, nós poderíamos estar muito maiores do que somos. Hoje, nós usamos isso como anticorpos para voltar a crescer e buscar um espaço, porque tem muito espaço no nosso país para isso. O que eu considero positivo para você conseguir essa performance e depois temporariamente ter algum problema e retomar. Acho que não é nenhum segredo e eu falo abertamente: é você não perder a referência. Lá atrás, uma das minhas primeiras atividades, era catar latinha. Aquilo pra mim era um sonho: ser produtivo; conseguir fazer algum recurso; conseguir fazer pra mim e ajudar as pessoas; o prazer de fazer e, por consequência, saber que depois, no final de muitas horas dedicadas àquilo, eu teria resultado material. Aquilo me satisfazia, me realizava, aquilo para mim era um sonho. O que faz com que eu consiga fazer isso hoje e crescer e continuar crescendo e cada dia me fortalecendo, é o fato de eu não ter perdido a referência. O meu estado mental, o meu estado psicológico, a simplicidade são os mesmos. Pra mim, só mudou o tamanho da lata. O mesmo estado de espírito, o mesmo sentimento que eu tinha em catar minhas latinhas, são os de hoje, quando eu ponho na linha de desmontagem 1, 2, vários ônibus, caminhões etc. A diferença é a proporção do tamanho. Mas a alegria é a mesma, o propósito de ser gerador de oportunidades é o mesmo. O prazer de ser produtivo e estar contribuindo com uma sociedade que me pertence e fazer diferença na vida das pessoas, impactando positivamente a vida de mais pessoas. Só mudou o tamanho da lata. Não importa o seu tamanho, se você não perder a essência, não perder a simplicidade, provavelmente, você não vai perder o chão e vai ser mais feliz. Esse é meu status, independente do tamanho da minha lata, eu não mudei, eu continuo sendo um cara feliz.
RE – Qual a importância de ter um propósito além do lucro em tempos difíceis?
GR – É tudo! A vida toda eu trabalhei pelo propósito, eu trabalhei pelo prazer. Quando você tem prazer e paixão pelo que faz, você não cansa, você sorri, você é feliz, você tem prazer em todos os dias acordar de manhã e ir na direção do seu propósito. Nós precisamos ter propósito, nós estamos de passagem por esse universo. Quanto tempo você tem? Quanto tempo você AINDA tem? O que você pode fazer para deixar um legado, para fazer a diferença, que tipo de protagonismo você pode ter no período curto que você fica na Terra? Eu não consigo imaginar alguém que viva sem um propósito. Você precisa ter um propósito. Se o seu propósito é ser um empreendedor, ser um gerador de oportunidade, ser um cara produtivo e você se dedica a isso mais de 12h por dia (porque ninguém precisa de mais de 8 horas pra dormir) é natural que você, por consequência, tenha resultado material. Eu sempre entendi que o resultado material, o dinheiro, um patrimônio, tudo que você conquista com seu trabalho, com sua dedicação, com seu propósito, é um consequência. Então, eu acho que o propósito é mais importante, o dinheiro na minha vida sempre foi uma consequência. De vez em quando eu consulto minha conta bancária, olho pra ela e pergunto: quem é de quem? É meu! Eu tenho um propósito e eu tenho dinheiro. E não o contrário. Não é o recurso que me tem. Por conta do meu propósito eu consegui o dinheiro, então eu não tenho dúvida que o propósito é mais importante que a conta bancária.
RE – O que faz de Geraldo Rufino um ser “irritantemente feliz”, segundo sua própria filha lhe descreve?
GR – O dia. O privilégio de mais um dia. A gratidão por ter começado mais um dia. Nada me encanta mais do que levantar de manhã, quando eu abro os olhos e eu percebo que o dia está clareando e eu estou aqui. A primeira coisa é dar um sorriso pra esse diamante que eu acabei de ganhar. O resto é comigo! Eu não consigo me imaginar levantar de manhã, perceber que eu ganhei o maior diamante que o ser humano pode ter na face da terra, que é o primeiro segundo de cada dia após acordar, cada dia, cada tempo, o tempo acaba, o nosso tempo é raro, curto e ele acaba e é o que nós temos de melhor. Quando eu levanto de manhã, eu sempre lembro, como se fosse ontem, da minha mãe dizendo “Olha! É a luz divina, agradece! Você ganhou mais um dia”. Isso pra mim é o suficiente pra que eu dê um sorriso e seja o cara mais feliz do mundo à minha volta. É uma forma de compartilhar com o outro a alegria de mais um dia.