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08/11/2018 Empresas Conscientes

Invista em autoconhecimento

Você anda pelo trânsito e pessoas frenéticas faltam ao respeito umas com as outras, demonstrando que têm muita pressa e prioridade para chegar a um lugar que nem mesmo elas sabem dizer qual é.

Nas escolas, pais atacam e desrespeitam professores que receberam a missão de educar seus filhos, em uma clara inversão de valores.

Nas famílias pais se digladiam frente aos filhos, muitas vezes buscando usar as crianças como suas armas de destruição em massa.

Nas empresas pessoas em posição de liderança dizem que “os colaboradores são nosso maior ativo” sem, no entanto, criar um ambiente que materializa esta máxima.

Se tudo isso lhe parece familiar, é preciso entender que estamos falando de efeitos, e não da verdadeira causa raiz.

Muitos dos problemas associados ao baixo nível de autoconhecimento que enfrentamos hoje na sociedade e no mercado de trabalho estão ligados a escolha da EDUCAÇÃO INDUSTRIAL que ainda mobiliza nossas escolas (do fundamental ao pós-doutorado).

Tudo começou pelo fato de a indústria precisar – lá pelo fim do século XIX – formar pessoas que se submetessem a uma linha de produção focada na repetição e no baixo questionamento, elemento satirizado e denunciado por Charles Chaplin em seu icônico filme Tempos Modernos.

Como aquela população vinda dos campos não estava preparada para esse nível de alienação (e não se submeteria facilmente a este processo), foi necessário criar um tipo de educação que “doutrinasse” a pessoa para aceitar a nova regra.

E, pelo poder da repetição (como explicado pelo psicólogo comportamental Frederic Skinner), em menos de vinte anos o estrago já estava feito e perdura até hoje.

E aí surge a escola moderna, com seu uniforme, sirene de entrada e saída, carteiras em linha, matérias isoladas e dissociadas que aprendemos sem saber por que ou para que, fortemente orientado para a repetição como melhor maneira para aprender.

Existe até uma máxima que balizava este modelo educacional que afirmava: “a repetição levada à exaustão, seguida de correção, leva a perfeição”.

O problema é que a busca pela “perfeição” já demonstra uma fixação pelo estático e por aquilo que não pode ser questionado nem melhorado, pois está pronto!

A indústria em seus primórdios não compreendia que o que está pronto está morto, sendo rapidamente copiado e melhorado por seus concorrentes.

Além disso, para completar a “educação”, criou-se a percepção que “criança boa é aquela que não questiona e aceita a regra”. Neste cenário, toda criança questionadora e com potencial de liderança é submetida ao destrato e ao entendimento que é errada por não querer se submeter.

É o famoso “prego que se destaca leva pancada”. E eu sei disso por experiência própria!

E qual foi a consequência?

Uma sociedade inteira com baixíssimo nível de AUTONOMIA, PROTAGONISMO, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL e PENSAMENTO CRÍTICO, que são as bases do autoconhecimento e também o modelo de pensamento necessários para a indústria 4.0 e para a implementação das tão debatidas metodologias ágeis.

A habilidade de perguntar foi morta e substituída pela capacidade de afirmar, repetindo premissas que nos foram impostas e que nem se quer entendemos o sentido.

Se hoje vivemos os problemas associados a este modelo educacional é preciso entender que para mudá-lo devemos atacar a causa raiz (e não o seu desfecho).

Uma nova Educação Corporativa

No mundo da indústria 4.0, das startups e da sociedade pós-industrial (fortemente regida por sua orientação ao serviço e o trabalho em equipe), precisamos de um novo tipo de profissional que é o oposto do que foi formado pela cultura industrial.

Porém, apenas de forma muito lenta e gradativa, o sistema educacional vem se adaptando a essa necessidade.

Só como um exemplo, recentemente os coordenadores de muitas Universidades Federais se revoltaram com a possibilidade de incluir matérias de empreendedorismo nas ementas de seus cursos, mostrando claramente o anacronismo e alienação que ainda representam.

Por isso, para criar o profissional e ser humano que a sociedade precisa desesperadamente, cabe ao mercado de trabalho formar a nova cultura educacional, desta vez trabalhando para desalienar, atuando na contramão do que no passado ajudou a formar dentro da cultura Taylor/Ford.

E aí surge naturalmente a pergunta: como podemos fazer isso?

A resposta é ampla e não posso dizer que seja simples. Mas um ponto é certo: o AUTOCONHECIMENTO precisa ser a base desta nova forma de ensinar!

Para você entender o porquê, devo dizer que é notório para o mercado que um bom profissional detenha muito mais do que CONHECIMENTO TEÓRICO. Ele precisa ser COMPETENTE, uma palavra regida por uma famosa equação denominada de CHAVE.

Ou seja:

C = (C.H.A)VE

O ponto é que, por mais conhecida que ela seja, poucos percebem uma grave falha que a mesma equação denuncia em nossa forma para promover educação corporativa.

Na fórmula estão presentes os componentes CONHECIMENTO, HABILIDADE, ATITUDE e VISÃO ESTRATÉGICA.

Pois bem, segundo o que se ensina, CONHECIMENTO aprendemos na faculdade e cursos que fazemos para compreender as bases teóricas que nos diferenciarão.

HABILIDADES aprendemos praticando, sendo estas fortemente desenvolvidas pelo tempo de mercado que destinamos à nossa profissão.

VISÃO ESTRATÉGICA é algo que demanda pensamento crítico (aquele que a educação tradicional matou) e mentoria para obter know-how com outras pessoas.

Já ATITUDES, segundo todos os teóricos, deve ser desenvolvida pela pessoa sozinha, o que revela a inabilidade e descaso da educação para tratar o tema.

Bem, o problema é que, segundo todas as diferentes pesquisas realizadas pela área de RH, em torno de 80% das demissões estão associadas às questões e inabilidades comportamentais.

Vou além: 100% dos problemas para os quais sou contratado para trabalhar estão ligados a aspectos comportamentais e, principalmente, ao baixo autoconhecimento dos envolvidos.

Portanto, podemos compreender que toda educação que não trabalha COMPORTAMENTOS, CRENÇAS LIMITANTES e ATITUDES é, no mínimo, 80% INEFICAZ!

E aí vem a pergunta: quanto tempo, em média, a maioria das pessoas investe em seu aprimoramento comportamental? Quanto esforço fazemos para melhorar nosso autoconhecimento?

Se sua resposta for “muito menos do que deveríamos”, você já está despertando para um importante entendimento: seu futuro pessoal e profissional, bem como o futuro de nossa sociedade depende de nossa capacidade para dedicarmos tempo e esforço no desenvolvimento do autoconhecimento.

Pessoas que possuem autoconhecimento não são apenas mais produtivas. Elas são aptas a construir vidas mais significativas e respostas mais ricas para todas as relações pessoais e profissionais que desenvolvem.

São também menos propensas a criar problemas nas famílias, no trânsito e nos escritórios no qual estão inseridas, liberando gestores, colegas, cônjuges, filhos e a si mesmo para se focarem naquilo para o qual viemos para este mundo para realizar: uma vida com propósito!

Se o autoconhecimento não é a solução para todos os problemas da humanidade, no mínimo posso afirmar sem medo que é uma das bases sem a qual continuaremos a criar problemas.

Espero que você, assim como acontece no meu caso, já tenha percebido que viver sem criar problemas pode e deve ser um caminho seguro para a felicidade.

Colaboradores

Eduardo Almeida

edu@cgrp.com.br