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07/11/2018 Autoconhecimento & Espiritualidade

Sobre peixes, aquários e oceanos

Gosto de pensar nas crianças como pequeninos peixes, que tanto podem nadar no aquário quanto no oceano, e reflito: que seres estamos criando para o mundo? estamos incentivando caminhos e lhes dando instrumentos para que transitem pelo oceano da vida sem medos, de forma segura e harmoniosa, criando possibilidades de plenitude e bem aventurança para si e para o mundo que os cerca? Para transitar com segurança pela vida é preciso se conhecer, saber de si mais do que dos outros, identificar o que quer da vida e que isso somente será possível através do autoconhecimento.

Como escolhemos os conhecimentos intelectuais que estão acessando, que modelos de liberdade estamos praticando, como estamos estimulando a conexão com o ser interior, com o sentir? Como lidar com elas para que sejam, senão tão felizes quanto nós, ainda mais felizes que nós, saindo dos pequenos aquários do universo familiar para nadar no oceano da vida?

Nossos filhos, trazem muito de nós; então, se acreditamos que somos frutos/filhos/resultado de uma energia divina, por que não teria muito dessa divindade em cada um e cada uma? Olho para as crianças e me encanto com a divindade nelas existente e me maravilho com as infinitas possibilidades à sua disposição. Como ensiná-las a reconhecer essa divindade em si e no outro?

Segundo a física quântica, o olhar do observador molda a realidade; então ao ensinarmos que existe um outro nível de consciência, de percepção, de visão de mundo, que vai além do ver para crer e estimula o crer para ver, é possível, passo a passo, possibilitar que elas aprendam a descobrir as infinitas possibilidades de que são capazes, se sintonizadas com a realidade divina interior.

Esse aprendizado interno, junto com o aprendizado intelectual, as ajudará a se conhecer, perceber e entender sobre as leis e processos dos mundos exterior e interior, passando a ter uma nova abordagem da vida, abrindo caminho para a criatividade da alma, transformando teoria em prática e deixando fluir suas melhores criações. A educação direcionada às infinitas possibilidades precisa orientar essa sintonia, estimulando o reconhecimento da singularidade de cada um e de cada uma, assim como os potenciais internos ilimitados, tornando-os solos férteis para serem mais conscientes e conectados com sua divindade.

Khalil Gibran, no livro “O Profeta”, diz que no coração de cada maçã há uma semente, e nele um pomar invisível. Porém se a semente cair sobre a rocha, nada florescerá; e eu afirmo: no âmago de cada ser humano há uma semente de luz, de amor e poder ilimitados e essa semente precisa ser despertada, para que floresça e produza bons frutos.

A preparação desse solo fértil deverá ser iniciada ainda em tenra idade, desde o primeiro olhar que a criança receber. Trabalho contínuo, do nascimento até sempre. Cada criança deverá ser estimulada a se apropriar das características que compõem seu eu interior, seus defeitos e suas virtudes, para assim aprender a lidar também com o seu pior, no sentido de se lapidar e deixar que apareça o diamante sagrado de sua essência divina. Se cuidarmos dessa preciosa semente, poderemos estimular a existência de seres mais íntegros, que poderão assumir suas verdadeiras identidades, indo além da autoimagem idealizada e do perfeccionismo que conduz à negação de si mesmo.

Se a mente não souber que existe um mundo interior a descobrir e explorar, como poderá tentar ir na direção certa, reconhecer suas dificuldades e transformá-las em possibilidades? A educação precisa unir o racional, o emocional e o espiritual, ampliando a visão de mundo e estimulando o pensar, o SENTIR e o agir.

Segundo Eva Pierrakos, assim como existem leis da química, da física, da matemática para o homem compreender, também as leis do mundo interior precisam ser aprendidas e entendidas e para isso faz-se necessário saber que a essência da criança busca explorar o mundo para dominá-lo e cumprir seu propósito de vida.

Outro aspecto a ser contemplado diz respeito à liberdade; Cecília Meireles, no seu “Romanceiro da Inconfidência”, escreveu que liberdade é uma palavra que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”. A liberdade de querer ser e aprender, sendo que liberdade não combina com punições; a aprendizagem que passa pelo sofrimento poderá tornar-se uma fruta sem gosto, que não vale à pena ser provada; liberdade, autoconhecimento e autodisciplina, precisam ser valorizados no cotidiano, enquanto forças que interagem e se complementam.

Muitos negligenciam a capacidade de autodisciplina da criança, tolhendo seu direito de escolha do melhor caminho em direção ao seu eu divino. Ao deixarmos fluir uma disciplina própria, orientada para o bom e para o bem, a necessidade de uma disciplina imposta de fora será cada vez menor, sendo que quando adultos ou ainda crianças não agirão de maneira destrutiva em relação ao ambiente ou a si mesmos.

Assim a maternidade e a paternidade deverão estimular o conhecimento pelo qual a alma da criança está sedenta, olhando-se suas necessidades e possibilidades, num processo de comunicação que vai além das palavras, explicações e punições, indo ao nível da percepção dos sentimentos, alcançando a consciência interna, dando lugar a uma interação verdadeira entre pais e filhos, para que seja então possível uma bela jornada no oceano das infinitas possibilidades.

Colaboradores

Conça Cedraz

concedraz@gmail.com