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01/11/2019 Autoconhecimento & Espiritualidade

Afete lá que eu Afeto cá

Uma reflexão sobre como afetamos o mundo e como o mundo nos afeta.

Você algum dia já parou pra se perguntar quem você realmente é? Quem seriam os personagens que habitam dentro de você, suas qualidades e defeitos, suas formas de sentir, pensar e agir nesse nosso “mundão sem porteiras” ou no mundinho que lhe cerca no cotidiano? E sobre como eles interferem no resultado de sua vida como um todo? Eu já! E essa resposta foi profundamente libertadora.

Pois bem: essa é a pergunta mais acertada quando se trata de identificar como afetamos o mundo e como o mundo nos afeta. O objetivo é descobrir quem nós somos de verdade, descobrir nosso Eu Real.

Ôpa, o que é mesmo isso de Eu Real? Vamos falar sobre a ótica da metodologia de autoconhecimento chamada Pathwork®: O Eu Real, como o próprio nome diz, é tudo o que você é, com suas partes mais positivas, seu Eu Superior e suas partes mais distorcidas, seu Eu Inferior. É preciso decidir se você quer viver na ilusão de que seria um “anjo de candura” ou assumir que dentro de você também existem partes a serem desenvolvidas, para poder dar a elas a chance de serem transformadas.

Todos nós temos muito medo do desconhecido, seja dentro ou fora de nós. Tememos nossos aspectos destrutivos achando que se os olharmos, eles se eternizarão dentro de nós e não vemos que eles são apenas nossas partes temporárias; assim os rejeitamos e nos afastamos do nosso Eu Real.

Vamos olhar a maneira como afetamos o ambiente em que vivemos, tanto a partir da nossa parte desenvolvida quanto da nossa parte em desenvolvimento.

A partir do nosso Eu Superior criamos o belo, o saudável, tudo o que é conectado com a paz e a harmonia, tudo o que pode ser chamado de amor. Mas precisamos aceitar também aquela parte que ainda não se desenvolveu, nossa parte quase irracional, ignorante e destrutiva do eu infantil e primitivo que vive em nosso interior. Sejam quais forem às razões, esta parte que tem medo e que odeia e que, portanto é destrutiva existe em todo e qualquer ser humano.

É a nossa inconsciência desse ódio e destrutividade que existe dentro da gente que gera em nós e ao redor de nós toda doença e sofrimento emocionais, todo um afetar negativo da gente para o outro e do outro para a gente. Essa parte destrutiva faz nascer em nós uma culpa inconsciente que nos faz manifestar atitudes de ódio, na maioria das vezes inconscientes, tendo como consequência a rejeição aos outros, à vida e à bondade de ser.
E nessa inconsciência, nos deixamos afetar pelas partes distorcidas do outro e deixamos de dar e receber o melhor da vida: o amor em plenitude.

O ódio que existe em nós, se negado, se manifesta numa passividade aparentemente inofensiva, nos fazendo parecer sempre calmos, sempre sábios, suaves e inofensivos. Quando negamos nosso ódio e maldade, nosso egoísmo e despeito, geramos problemas para nós mesmos e para os outros. Ao negar a maldade em nós a colocamos na vida, no mundo, no outro e às vezes até em Deus, caracterizando-o como aquele que castiga e pune. Nos ocupamos em culpar, acusar e muitas vezes montamos uma argumentação para colocar o mal no outro ou nos outros, fora de nós, usando o mal real ou imaginário dos outros para negar o mal que existe em nós mesmos. Distorcemos nossa realidade interior para não encará-la.

Preciso lhe dizer que isso nos coloca numa enrascada: montamos numa gangorra e ficamos oscilando entre a dependência infantil em que nos encontramos, na ilusão de que somos impotentes diante dos erros dos outros, e, ao mesmo tempo, onipotentes devido à responsabilidade que esta atitude nos impõe, de julgar e culpabilizar o outro e não assumir a nossa própria destrutividade. No momento em que assumirmos plena responsabilidade sobre quem somos e sobre o que fazemos, quase magicamente nos livramos da culpa e paramos pra pensar como agir a partir de então.

Com isso não estou dizendo que devamos assumir isoladamente a responsabilidade e, falsamente, inocentar os outros. Precisamos encarar essa nossa parte destrutiva, o nosso próprio mal, sem perder de vista que se trata apenas de um aspecto menos desenvolvido de nós como um todo, do nosso eu.

A chave da vida plena e harmoniosa é o reconhecimento honesto dessa nossa parte destrutiva e primitiva. Os níveis mais desenvolvidos são construtivos e criativos, são verdadeiros e amorosos e têm um efeito muito forte sobre o mundo à nossa volta.

A partir dessa honestidade é possível lidar com nossas camadas que ainda precisam de desenvolvimento e atingir o que está por detrás delas, ativando o que há de melhor na gente e no outro.

A acusação recíproca, a atribuição hipócrita de culpas, o hábito de montar uma argumentação de que somos vítima dos outros e das circunstâncias, todas estas táticas enfim, aumentam e reforçam a interação negativa, a luta e o conflito, a dor, a separação e a confusão, nos vulnerabilizando a ser negativamente afetado pelo outro. Se o outro consegue nos afetar dessa forma, é porque existe necessariamente dúvida sobre nossos verdadeiros motivos e culpa; nem todas as nossas confusões e impulsos destrutivos, nem todos os nossos aspectos irracionais e ilusórios foram encarados.
Todos nós precisamos crescer e nos desenvolver para podermos assumir totalmente quem somos, deixar de ter necessidade de defesas destrutivas para nos isolarmos e transferir aos outros a responsabilidade pelo nosso estado atual.

Quando estamos conectados com nosso Eu Real, o mal que vem do outro não nos afeta. Apenas paramos pra pensar, sentimos o que estamos sentindo, decidimos como agir diante daquela circunstância, sem nos deixarmos abalar por aquele comportamento ou acontecimento. O outro é o outro e nós somos nós. Temos a tranquilidade de decidir o que queremos fazer com tudo o que o outro nos traz, sem sermos afetados negativamente.

Para conseguir estar nesse lugar, é necessário examinarmos quais têm sido nossas reações à presença do outro, às atitudes dos outros, aquelas que no fundo no fundo você sabe que não é o outro, é você que não se sente contente com a forma como as coisas estão acontecendo, em outras palavras: com você mesmo.

Dessa forma, AFETE LÁ QUE EU AFETO CÁ, consciente e positivamente. Isso somente será possível se reunirmos a coragem de identificar nossos aspectos maus e distorcidos, acolhê-los na intenção de transformá-los, deixando com o outro o que é do outro, nos libertando da culpa e das exigências de que os outros têm que ser como nós gostaríamos que ele fosse e sendo felizes, independente do que a vida e o outro nos tragam.

Conça Cedraz
concedraz@gmail.com

Colaboradores

Conça Cedraz

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