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07/01/2021 Especial

O poder sagrado e curativo das ervas

Velhas sábias curandeiras, senhoras dos fundamentos encantados, as plantas são emissárias divinas a serviço da humanidade. Nos ensinam sobre sutileza, sobre ser gentis com nós mesmos, inspiram-nos a ser pacientes, a respeitar o tempo de expressar e realizar cada movimento. Ensinam sobre entrar em sintonia com o nosso Eu Superior, acolhendo tudo o que somos e todos os estágios que experienciamos a cada instante. Nos convidam a caminhar em sincronicidade com o tempo cíclico da terra, da natureza.

Não é à toa que no Xamanismo, as plantas são consideradas uma nação, conhecida como o Povo em Pé e estão presentes neste planeta desde os primórdios. Elas fornecem oxigênio aos filhos dessa terra, num ato de amor e de profunda doação.

Num gesto puramente materno, são sensíveis à escuta das necessidades de todos os seres e se empenham para atendê-las seja com suas medicinas de curas para o corpo e para a alma, seja acolhendo os seres alados, que fazem os seus galhos e troncos de abrigo. Suas raízes também servem de morada para insetos e outras pequenas criaturas que habitam debaixo do solo. Sem falar das conexões que estabelecem com os seres invisíveis, com o mundo etérico.

As plantas carregam as memórias e toda a força de nutrição da Terra, recebem as emantações do Sol e da Lua e em seu éter luminoso guardam a essência de cura para todos os males que se manifestam no corpo, na mente e no espírito. Possuem uma inteligência particular e auxiliam no nosso caminho evolutivo, no nosso crescimento.

Estão sempre disponíveis para nos amparar quando precisamos e conectamos com suas medicinas. As plantas elevam a nossa frequência, nos permitem trocar a nossa vibração, criando um campo luminoso em nossa volta, como um casulo.

Assim, podemos respirar numa outra atmosfera de pensamentos e acessar as soluções adequadas para diluir padrões, crenças limitantes, dores físicas e da alma, livre de interferências energéticas densas no nosso campo energético, físico e mental. Assim, podemos ativar e expressar a nossa energia original.

Lembrando que as plantas não sustentam um estado vibracional elevado se não nos esforçamos para transformar o que precisamos. As plantas são auxiliares da nossa missão pessoal e coletiva e não, responsáveis por nossas escolhas.

Atualmente, vivemos num tempo em que resgatar a nossa reconexão com a força de nutrição natureza e toda a sua potência de alinhamento é um grande chamado. E já que a maioria de nós vive “rodeados” de concreto e nem sempre podemos nos dar ao luxo de estar no meio do mato, podemos fortalecer esse elo com as plantas, através dos banhos energéticos de limpeza, benzimentos, das defumações, chás, aromas, tinturas, entre ouras formas alquímicas.

Podemos reconhecer ou receber a medicina das plantas, numa ligação que se estabelece entre o nosso chacra cardíaco e o campo de saberes e memórias delas, acessamos a ciência do vegetal a partir do sentir. Para isso, precisamos estudar os benefícios e aplicabilidade das plantas e experimentar no nosso corpo os efeitos terapêuticos energéticos de cada uma que nos chamar, é o primeiro passo para iniciar a jornada de um aprofundamento com o intuir sobre o uso das plantas.

Na relação com as plantas a intuição vai florescendo na medida em que vamos sintonizando com elas. O ideal é que mesmo tendo uma boa sensibilidade e percepção intuitiva para essa escuta é importante compreender cientificamente o que cada planta trabalha, qual a o seu direcionamento, já que as ervas têm o poder de curar ou de adoecer. Tudo vai depender da forma de utilização, da dosagem, da intenção e, claro, de conhecimento prévio a respeito.

Estudar e experimentar os benefícios das plantas é uma maneira riquíssima de reestabelecer esses laços. Com o passar do tempo, por mais surreal que possa parecer, as plantas ensinarem os seus rezos e seus segredos para cada um de nós, de forma bem particular. Cada planta possui os seus próprios dons, suas ciências e mistérios. Além disso, estudar o campo medicinal das plantas é uma forma de honrar os nossos antepassados, que guardaram os saberes e fundamentos do reino vegetal, transmitidos de geração em geração.

Aliadas nos ritos de passagem

No universo de cura dos benzimentos, das alquimias medicinais com as plantas, dos que rezam nas quebras de mandingas, liberações e encaminhamentos das pressões e interferências energéticas, fim de ano é um chamado para ampliar as conexões e a lida com as ervas que trabalham na limpeza dos corpos sutis e dos ambientes, ajudando a alinhar o que está fora do lugar dentro e fora de nós.

Em meio a milhares de ensinamentos, trabalhar com as ervas no campo sagrado nos permite deixar para trás as cargas que não precisamos levar para a nova jornada, nos ensina a acalmar o coração e a mente, a encontrar as respostas mais íntimas que precisamos para virar algumas chaves dentro de nós, protegem o nosso campo de interferências densas. As ervas aprontam o nosso espírito para atravessar os portais, são energia de fundamento nos ritos de passagem.

Em muitas tradições, principalmente indígenas e afrodescendentes, as defumações e sacudimentos com as ervas na casa, templos e centros de cura, os banhos e saunas depurativas com as ervas, entre outras, são ferramentas presentes no dia a dia daquele povo. Acreditam que a fumaça das ervas espanta energias malignas, removem obstáculos mentais, físicos e espirituais, harmonizam a frequência vibracional do ambiente e de todos os que vivem ali.

Os banhos de ervas desobstruem o fluxo de passagem de energia no nosso campo sutil, liberam as impregnações energéticas que tentam se instalar no corpo físico, causando doenças. Os banhos perfumados clareiam e acalmam a mente, facilitam a conexão com o nosso coração e com a mansidão da nossa alma.

Nesta época, essas ritualísticas são praticadas em sinal de agradecimento por tudo o que experienciamos e aprendemos ao longo do ano, além de ser uma oportunidade de dar boas-vindas ao novo ciclo, pedindo inspiração, coragem e vitalidade para fluir com entrega e resiliência em tudo o que a vida nos reserva para os próximos capítulos da nossa jornada humana.

É assim que as plantas trabalham, renovando a nossa esperança e fé, fortalecendo o nosso propósito, a nossa missão, nos alinham com a nossa verdade e potência interior, nos conectam com a fonte divina da vida, com a essência da terra, permitem que nos harmonizemos com a energia fluida e sublime do feminino que pulsa em todas as espécies do planeta. Permitem que encontremos a cura que precisamos e buscamos.

Plantas mestras, expansoras de consciência e de memórias inconscientes

Entre os indígenas, os guardiões das medicinas das plantas são os mais velhos da tribo, que geralmente são os pajés (curandeiros), os caciques e as rezadeiras. Os líderes acessam todo esse saber através de uma conexão direta e profunda com cada uma das plantas, as quais eles chamam de plantas mestras, a chave para a sabedoria plena.

Permitem o acesso direto e reto com o plano espiritual (através da sua energia Elemental), trazem conhecimento e clareza sobre o que há de mais delicado, sutil e invisível em outros estados de consciência humana. Portanto, essas plantas além de curar nos conduz a uma jornada de grandes descobertas, podendo auxiliar a superar os nossos medos e as dores do passado.

Muitos dos ensinamentos sobre os benefícios medicinais das plantas se apresentaram e guardados por nossos antepassados, através dos rituais de expansão de consciência com as plantas de poder. Os Shipibos Conibo, grupo étnico da Amazônia peruana, que se distribui ao longo das margens do Rio Ucayali, são grandes curandeiros e especialistas quando o assunto é conexão reta, direta e íntima com o reino vegetal.

Com a ajuda do chá, os curandeiros acessam os campos mais sutis das plantas e recebem diretamente delas os seus cantos (Icaros), as orientações sobre o seu uso e o seu poder de cura para tratar determinadas doenças. Além do chá da Ayahuasca como um veículo de cura, os Shipibos recorrem muito ao uso do Tabaco, uma das plantas mais velhas e sábias, para receber as informações sobre a potência curativa das ervas.

Nas tradições indígenas da América do Sul, as principais medicinas que abrem os portais de conexão com os espíritos das plantas são o Tabaco, a Jurema, o Rumê (Rapé) e a Ayahuasca. Que devem ser consagradas com muita parcimônia e respeito.

Aplicabilidade dos banhos de ervas na reprogramação energética

Em volta do nosso corpo existe um campo eletromagnético, o que chamamos de aura. Esse campo, através dos nossos chacras, capta e emana vibrações energéticas o tempo todo. Diariamente, sobrecarregamos esse campo com um bombardeio de emoções como preocupações, raivas, tristezas, medos, frustrações, euforia, além de sentimentos tóxicos que adoecem o corpo e a alma.

Tais emoções são a base para as nossas criações mentais, que podem elevar ou baixar a nossa frequência vibracional. Quando acumulamos as cargas emocionais na nossa aura, se não ficarmos atentos, tendemos a dar abertura para que as doenças se instalem no corpo físico.

Nos banhos, as plantas limpam o nosso campo e ajudam a impedir a que as doenças se instalem. São curandeiras de todos os males do corpo, da mente e do espírito. Gosto de utilizar as ervas frescas, já que o espírito da planta está mais potente, mais vivo.
Devemos honrar cada um desses seres e, desde a colheita, pedir permissão para a planta durante a colheita ou antes de utilizá-las, agradecer por sua disponibilidade e, na hora de preparar o banho: intencionar e pedir que a energia de cura daquela planta possa auxiliar no que precisamos, de acordo com o nosso merecimento.

Geralmente, escolhemos um, três, cinco ou sete tipos de ervas para preparar o banho. Sempre trabalhamos com um número ímpar de ervas, já que a intenção é reprogramar a nossa energia.

Preparo

Na prática, com as ervas em mãos, é hora de recolher-se e concentrar no seu propósito. Vamos lavar as folhas e, num recipiente limpo com água, vamos intencionando o que queremos enquanto desmembramos folha por folha, sem os galhos, colocando tudo no recipiente. Ao finalizar o processo, é hora de macerar com calma, rezando, cantando ou em silêncio, até que a água assuma uma cor esverdeada. Depois disso, basta tomar o seu banho higiênico e, em seguida, banhar o corpo com a água de ervas, no geral, do pescoço para baixo. E lembrem-se de deixar o corpo secando naturalmente e de não ingerir bebida alcoólica no dia.

Existem as plantas direcionadas para limpezas mais fortes, como é o caso do Pião Roxo e da Arruda. Já as plantas de harmonização em sua maioria são ervas de cheiro mais adocicado e suave, como é o caso do manjericão e do macassar.

Depois dos dias intensos vividos ao longo deste ano, é tempo de reservar um tempo para você, de exercitar o autocuidado, de reconectar com a fonte primordial e mantenedora da vida e receber as bençãos dos banhos de ervas é mais do que uma escolha assertiva para findar 2020, soltando os pesos, as mágoas, tristezas, ansiedades e cansaços, esvaziando os excessos e abrindo espaço para o novo que a vida nos reserva para 2021.

Para este período, podemos contar com algumas ervas aliadas que vão ajudar a equilibrar os nossos “desajustes” particulares e coletivos internos. Medite, inspire-se e permita-se sentir e escolher a planta que te chama, sejam as que vou sugerir na sequência ou outras que, por ventura, já conheçam e tenham afinidade. Ou, de repente, alguma que esteja fora desses dois repertórios, digamos assim.

Quando atravessamos desafios, de ordem emocional ou energética principalmente, o ideal é escolhermos ervas que fazem limpezas mais profundas no campo e no dia seguinte, ou alguns dias depois, conforme sentir, utilizar as ervas mais abrandadoras, que atuam mais na harmonização da energia.

Entre as plantas mais forte estão a Aroeira, que trabalha no rezo das matas, da terra, dos caboclos velhos. É uma planta que pega na nossa mão e nos fala: “levanta a cabeça, meu filho. Essas são as experiências que você acordou viver. Recorda da tua força e transcende o teu desafio com resiliência. Cuida-te e tenha fé de que todo o mar revolto se abranda após a tempestade!”.

Já a Arruda ajuda a liberar o choro contido e tristeza. Traz força de realização. Elimina traumas, frustrações e sentimentos de fracasso. Ajuda a parar de reclamar da vida, elimina as amarguras e chatices. O Pinhão Roxo cicatriza as feridas da alma. Ensina a colocar ponto final em dependências emocionais. Limpa energias densas e miasmas do nosso campo.

Depois da limpeza profunda é hora de caprichar nas ervas de cheiro para receber as bênçãos do ano, emantar e expandir a energia da nossa aura. O Macassar é uma folha feminina, de apaziguamento, ligada ao elemento água. Tem um perfume adocicado e encantador. Ajuda a equilibrar a energia mental, relaxa e estabelece uma conexão com o divino (Eu superior).

Atua liberando o cardíaco. Para abrir a consciência e enxergar com clareza a verdade sobre as nossas escolhas temos o Manjericão. A planta também irradia energia mental e eleva a qualidade dos pensamentos. No da Mirra, limpa emoções e sentimentos negativos. Ajuda a colocar ponto final nos laços energéticos destrutivos.

As folhas e a sustentação das cerimônias místicas e de cura

As tradições espirituais de matriz africana são grandes guardiãs dos conhecimentos das plantas medicinais, que chegaram para a gente através dos nossos antepassados. Ciências conectadas às forças da natureza, na Umbanda, no Candomblé e na Jurema as plantas são utilizadas não somente para prevenir e curar doenças, mas também nos rituais de iniciação e de louvação aos Orixás e guias espirituais e para sanar desequilíbrios espirituais.

Nas três linhas espirituais, as folhas são elementos sagrados, indispensáveis em todas as suas ritualísticas, a exemplo da Cerimônia da Água Sagrada (uma mistura de folhas consagradas em banhos para o ritual de feitura de santo) das religiões Afro-Brasileiras.
Para o povo de santo, sem as folhas nos seus rituais os Orixás não se apresentam. Todas as folhas têm seu poder, mas nem todas são aplicadas em banhos litúrgicos. Neste caso, os banhos são orientados pelo sacerdote ou sacerdotisa, que conduzem os trabalhos na casa. Eles sabem quais as ervas podem ser utilizadas pelo filho de santo.

Na liturgia, somente eles conhecem o poder, a aplicabilidade e a reação de todas as folhas, entendem a respeito das polaridades energéticas de cada planta. Cada folha utilizada nos rituais tem um canto e as palavras sagradas que ativam a sua força.

As ervas são colhidas em determinados horários do dia, o que vai depender da finalidade do tratamento. A divindade das folhas medicinais e litúrgicas dentro do Candomblé e da Umbanda é Ossãe (Ossaim). A este Orixá deve dirigir-se todo aquele que quer iniciar-se em uma das religiões afro-brasileiras. Ossaim é um grande mestre, que cura através das folhas.

As folhas guardam a cura para todas as mazelas e doenças do corpo, da mente e do espírito. Os banhos de ervas, como forma de receber a proteção da energia do espírito das plantas e do Orixá que se identifica com a erva, também são bem comuns na tradição. Sendo assim, o Manjericão traz paz espiritual; o Pião Roxo, limpa as feridas da alma, o Guiné (Atipim) limpa profundamente o campo áurico ou, como dizem, é uma excelente planta para “descarrego”.

A Jurema é uma ciência fitolática (culto de louvação às plantas) de origem indígena, que incorpora os fundamentos das religiões afro, do catolicismo e do kardecismo. O “toque de Jurema”, acontece em torno da ingestão da Jurema, uma bebida fermentada feita com hidromel e cascas da árvore da Jurema, rezada com a fumaça das raízes queimadas no cachimbo e dos pontos (cânticos) ao som do maracá e das palmas. Juntos, esses elementos expandem a consciência e conectam os adeptos aos seres encantados e aos espíritos indígenas, que incorporam e realizam os seus trabalhos de cura.

Jamille Coelho
Guardiã das medicinas sagradas das plantas nos fundamentos da fitoterapia, dos benzimentos, banhos de ervas, defumações, saunas depurativas, assentos e vaporizações uterinas, entre outras alquimias. Acupunturista, fitoterapeuta, erveira, terapeuta em ginecologia natural e florais. Conduz também círculos de mulheres, no caminho do despertar consciente do feminino e de toda a sua sacralidade.
Instagram: @jamillecoelho

Colaboradores

Jamille Coelho