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05/11/2020 Papo de Palhaço

Vulnerabilidade é Potência

A figura de um palhaço, em um olhar menos atento, pode parecer a grande figura de um derrotado, ledo engano. O palhaço usa roupas desajustadas com seu tamanho, para demonstrar que foram doadas por outra pessoa. Assim como o sapato, muito maior que seu pé, não é dele, são restos. O nariz é vermelho já que ele dorme ao relento. Ele tem sempre aquele jeito de quem apanhou, até perder o rumo de casa.

Isto é a figura externa do palhaço. Esta é a maior força que ele tem. Ele se admite perdedor, e assim, descobre que precisa levantar.

Quantas vezes admitimos, de fato, uma derrota? Muito tempo da nossa vida foram gastos mastigando uma derrota e, pior, quase nunca a admitimos. É sempre culpa de outrem, de uma circunstância, dos Ets que nunca chegam, de Jesus que não volta, nunca nossa. Se admitir derrotado, talvez, é uma das maiores dores que um ser humano pode enfrentar. Nascemos para ser vitoriosos, de maneira torta ou reta, somos educados pra isso. A ideia de que a felicidade é a vitória já nos acorda nas notícias de jornal ou na time-line das redes sociais.

Mas é justamente a derrota que nos faz andar, ela cospe em nossa cara que aquilo já não nos serve, é como a roupa de debutante linda, porém datada. Logo o corpo muda, o olhar sobre estética muda e aquilo que, em outrora, foi a realização de um sonho, se perde todo o sentido para o presente, o sentido agora se resume a lembranças de que podemos viver momentos especiais, únicos, mas eles precisam se renovar.

O velho líder Xamã nos diria: Viver é saber morrer. Márcio Libar, o Palhaço Cuti Cuti, diria: Se para aprender tem que cair, pra levantar tem que admitir que caiu. Jung nos diria: Onde mora sua dor, está sua maior tarefa. Enfim, resiliência é a já propagada chave para uma nova vida, mas a resiliência só pode existir após a derrota ser admitida.
Eu sei que o papo já é batido. Mas o que quero demonstrar são as soluções que os palhaços usam após a derrota.

Uma pessoa comum, quando cai, se levanta com muita vergonha. A vergonha vem do ego, da falsa ideia de que somos invencíveis, de que o mundo gira ao nosso redor, ao nosso bel prazer. Mas o palhaço não tem algo, ele não é um personagem, ele é! E, como analogia do humano, o palhaço sabe perder.

Por técnica de palhaçaria, o palhaço provoca a derrota, não sabe direito o que quer, corre atrás do chapéu, mas lembra da blusa, e muda a busca. Mas, no fim, vai colocar o chapéu com os pés. A derrota é mero plano de fundo da demonstração de sua genialidade.
A lição do palhaço, ao humano, mais do que a derrota, é se levantar com galhardia e elegância.

Vamos para a prática?

Todos nós, quando nos tornamos pais, ou responsáveis por outrem, colocamos um conjunto de expectativas naquele ser. Acontece que, invariavelmente, estes seres irão nos decepcionar. A decepção, aqui, é uma derrota muito dolorida. Mas, neste caso, negar essa derrota/decepção não é possível, ou se for, poderá render a imposição de nosso ego em troca da destruição humana de alguém que nos vê como algo perto da verdade absoluta.
Isso aconteceu comigo ou, melhor, acontece cotidianamente. Qual minha atitude?
Amar!

Se eles não gostam de fígado de boi, coisa que eu adoro, busco preparar o melhor estrogonofe do mundo. Sempre fui um “homem de estádio de futebol”, ir ao estádio é, por certo, uma das maiores delícias que conheço na vida. Meus filhos acham um tédio. Sendo, assim, me divirto com eles andando de bicicleta, ou fazendo arte.

No amor romântico a derrota pode gerar as piores reações do mundo. As cadeias estão lotadas de pessoas que não aceitaram a derrota de um amor romântico. Existem sete bilhões e oitocentos milhões de pessoas no mundo. Perder uma delas, é perder a vida? O quanto perder aquela pessoa dói em nós e o quanto dói já que destrói nossa persona (máscara que usamos para ser aceito pelo mundo)? Perder um amor pode doer mais pela perca do “status”, do que pela carência.

Seja o amor! Busque em outras pessoas a possibilidade de expressar esse amor com outras pessoas. Se torne autor da própria história. Afinal, como diz Marcio Libar:

“Um palhaço quando cai, se levanta com a elegância de um Mestre Sala”

João Vítor Rodrigues Faustino
Terapeuta e Palhaço
joaovitorfaustino1@gmail.com

Colaboradores

João Vítor Rodrigues Faustino

joaovitorfaustino1@gmail.com