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25/05/2020 Papo de Palhaço

Palhaço não é um personagem

Um palhaço não é um personagem. Personagem nUm palhaço não é um personagem. Personagem nasce da palavra persona. Persona nos remete ao teatro grego, quer dizer máscara. Cada personagem utilizava uma máscara para interpretar seu papel. Jung, diz que usamos personas diferentes para cada ambiente. Temos a persona para ser filho, temos a persona para ser amante. Temos a persona para ser profissional. Estas personas são construídas para a aceitação de outrem.

Acontece que, para que consigamos ser palhaço, entramos em um processo de autoconhecimento tão profundo que tiramos a aceitação de outrem e a trazemos para dentro de nós. É comum, em cursos de palhaços sérios que sejamos expostos ao ridículo.

No começo, subimos ao palco para falarmos de nossos defeitos. Explorar nossas feiuras, olhar para nossa humanidade, descobrirmos nossa finitude e nossa inadequação ante ao mundo para que, no fim de tudo, possamos perder nossa ilusão de que temos alguma importância.

Quando a gente morre, nossos pais e filhos seguem a vida. Quando a gente se separa, de um amor, todas as poesias se tornam sujeira de caneta no papel. Se nossa empresa quebra, nossos funcionários logo arrumam nova colocação. Sim! Somos meras coisas apodrecendo a cada dia, nada além disso. Se choramos ou sorrimos, pouco importa. Se formos o maior de todos os tempos, não seremos cindidos da dor. Somos um mero lixo no caminho da putrefação. Se nossa construção se assemelha a um casebre ou a um arranha-céu, isto importa apenas para nós, para mais ninguém. E se você, ao ler isso, está bravo. Estou chegando onde quero. Mas o ponto de excelência se dará quando o choro ocupar toda sua alma. Um choro de revolta, contra si mesmo, que acreditou nessa mentira que você se permitiu acreditar. Você é um LIXO! Eu, palhaço, aceito isso.

Mas o palhaço não usa uma máscara? E o nariz vermelho?

“O nariz de palhaço é a menor máscara do mundo, a que menos esconde e a que mais revela”. Luís Otávio Burnier – Fundador do Grupo Lume, uma das escolas de palhaço mais importantes do Brasil e do Mundo.

A partir da aceitação de toda sua inadequação, de suas misérias, de seu ridículo, você descobre a liberdade. Tudo é leve. Todas as pessoas se tornam amáveis, você se aceita e se permite aceitar a outrem. Assim, ninguém lhe deve nada! E tudo que outrem fizer ao seu favor e contentamento, passa a ser um grande presente, ou uma dádiva.

Como já dito, na edição anterior, não tenho a pretensão de transformar os leitores em palhaços. Mas, por certo, tenho a vontade de que o universo do palhaço possa lhe ajudar a ter uma vida melhor.

Grandes palhaços, sem o nariz vermelho, ainda continuam a usar as personas na vida. Aliás, é perto do impossível o livramento integral das personas, e está tudo bem. Mas o palhaço pode te ajudar a construir sua própria luz.

Afinal o que é a liberdade senão a falta de esforços desnecessários? Para que se esforçar?

Pare de se esforçar para controlar os outros. Pare de se controlar ante a um sentimento que chega sem razão. Apenas flua. Tudo ficará bem.

Eu já abandonei estas necessidades. Não apenas com o nariz vermelho. Apenas deixo fluir. Assim como nos ensina Paulo Leminski:

“Não discuto com o destino… O que pintar eu assino”.

E para acalmar vosso coração, posso garantir, tudo será poesia. As vezes de dor. E tudo bem. Qual o gosto do amargo, senão se contrapõe ao doce, ou o contrário?

Só para concluir, gerando esperança. Gostaria de compartilhar a grande alegria que vivo neste momento. Durante meus quase quarenta anos de vida, o amor sempre foi uma grande busca. Não apenas o amor ágape, que talvez o palhaço tenha me ensinado. Mas o amor Eros, tão fundamental ao nosso conforto psíquico. No momento em que me aceitei, fui, realmente capaz de gerar amor ágape, o amor Eros mais lindo do mundo, me foi dado. Já dizia o poeta: “amor verdadeiro é quando ele deixa de ser uma palavra e se transforma em um rosto” como fotografias não cabem em um texto, vou transformá-lo em um nome: Karina Amaral Moreira.

Até a próxima pessoal.

João Vítor Rodrigues Faustino
Terapeuta e Palhaço
joaovitorfaustino1@gmail.com

Colaboradores

João Vítor Rodrigues Faustino

joaovitorfaustino1@gmail.com