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14/08/2020 Arquitetura Viva

Casa Alpha A1

Como não podia ser diferente, neste projeto a natureza é a grande guia. Prevalecem os estudos do ambiente local e seu entorno, com entendimento e relevância de fauna e flora, a fim de direcionar os estudos de estratégias sustentáveis, considerando os mais diversos aspectos. De igual relevância estão os estudos de insolação e ventos dominantes que resumem os sistemas passivos de iluminação e ventilação, garantindo ao projeto melhorias ao ambiente humano, sendo saudáveis a pessoas e ao planeta.

A casa Alpha A1, o grande laboratório da arquitetura Viva, onde os mais diversos testes entram em ação antes de serem especificados em suas obras, tem toda sua alvenaria em terra crua. As paredes são feitas em tijolos de adobe (técnica ancestral e ecológica na fabricação de tijolos), com dimensões técnicas a atender alta performance de isolamento térmico para o cerrado brasileiro, onde se encontra inserida.

Estas paredes vivas, funcionam como filtros de barro, se autorregulam em umidade e temperatura e precisam “respirar”, garantindo ambientes frescos e saudáveis. Para isso nenhum composto selante deve ser aplicado a este tipo de alvenaria, que recebem acabamentos naturais, a fim de lhes permitir tais processos.

Quem conhece o cerrado sabe o quanto pode ser quente em determinadas épocas do ano e para isso várias outras estratégias foram correlacionadas a fim de minimizar tal impacto, como os telhados vivos.

De alta inércia térmica, as lajes receberam jardins, que performam muito além da melhoria da temperatura (podem diminuir até 6 graus), contando como contribuinte no aumento de biodiversidade, resgate de carbono, retenção e filtro de águas de chuva. Um ecotécnica simples, mas que hoje já existe como produto, para os mais diversos bolsos.

A casa A1 também conta com captação e armazenamento de quase 250 mil litros de água, além de reciclar toda sua água cinza e não emitir esgoto para rede pública. Para as águas cinzas foram criados filtros que finalizam seus processos regando um grande pomar, produtor de mais de 30 tipos de frutas. Para as águas negras, a casa conta com bacias de evapotranspiração. As BETs, como são conhecidas, são sistemas de ciclo fechado onde uma eficaz parceria entre bactérias e raízes de bananeiras, digerem e tratam todo o esgoto, transformando-os em microclima e alimentos.

Cada bananeira adulta evapotranspira aproximadamente 100 litros/dia no ar, uma verdadeira fabriqueta de nuvens. Em lugares mais úmidos isso não é tão relevante, mas no cerrado brasileiro, onde pode-se chegar a umidades desérticas, é fator determinante no quesito “qualidade de vida’. Nesta casa ela se encontra estrategicamente posicionada, de forma a garantir que na época mais seca do ano, o vento dominante possa se carregar de suas partículas e carregá-las ao ambiente interior. Sendo a casa toda em barro, carrega-se e armazena tal umidade garantindo um desempenho exemplar, relativo à umidade em ambientes humanos, onde se mantém entre 40% e 60%.

Também como fator determinante na performance deste projeto, está o paisagismo produtivo. Com espécies de menor demanda hídrica e alta atratividade de fauna, ele gera microclima, produz alimentos, aumenta a biodiversidade e cria solo de alta qualidade.

Além de todas estas qualidades o paisagismo é nosso acesso mais imediato a estímulos biofílicos, aquela boa sensação que nós seres humanos temos, ao contemplar a natureza.
Além do paisagismo, outros gatilhos biofílicos despertados, pois nesta casa sempre é possível ver o céu, o sol e a lua, garantindo mais estabilidade ao ciclo circadiano (nosso relógio biológico).

Outras percepções podem ser abordadas quando falamos dos revestimentos e materiais aplicados neste projeto. Os ambientes são dotados de diversos estímulos (texturas naturais de materiais diferentes) a fim de criar como resultado um produto maior que a soma dos mesmos, estimulando conexões neurais que nos levam a lugares confortáveis em nós mesmos e nos fazem felizes.

Além disso, esses materiais buscam otimizar seus ciclos no planeta, passando em grande parte, de resíduos a insumos, ou seja, materiais que seriam passivos ambientais (como pedras de refugo ou madeiras de demolição), aqui encontram um lugar mais nobre de continuarem existindo, como paredes ou revestimentos.

Outra peculiaridade é o design e a produção de revestimentos e mobiliários que compõe os ambientes. Com sua pequena ‘movelaria viva’, o escritório Arquitetura Viva, produz para si e seus clientes, móveis, luminárias e os mais diversos adereços e artefatos em madeira de demolição brasileiras, honrando todo e qualquer toquinho que passe por ali.

Mesmo sendo uma casa relativamente grande (4 suítes, sala, varanda, 2 escritórios, 3 lavabos, suíte de serviços, casa de bombas, irrigação automatizada, marcenaria, etc), a casa tem um custo operacional baixo, ou seja, seus custos mensais são mínimos (contas de água e energia), pois gera sua própria energia, armazena a água que “vem do céu” e tem implantado todo tipo de estratégia para induzir ao menor consumo de ar condicionado, luz, além de preocupar-se em não usar materiais alergênicos ou cancerígenos, melhorando a qualidade de vida de seus usuários.

As construções saudáveis/sustentáveis são ainda comparadas às convencionais de maneira equivocada em relação a seus custos, precisamos pensar como as coisas performam em longo prazo e aí sim entenderemos a diferença entre poupar e investir.

Luana Lousa
Bioarquiteta
arqbiolua@gmail.com

Colaboradores

Luana Lousa

arqbiolua@gmail.com