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01/03/2020 Planejamento Consciente

Autoconhecimento: comece dizendo “Não”

Esta semana li um texto que me soou como provocação. Essa palavra tem sido uma constante para algumas pessoas do meu convívio, pois sou um exímio provocador. Segundo o dicionário, provocação pode ser definida como ato ou atitude de afronta e desrespeito, mas também pode ser o ato ou efeito de, com palavras e atos, forçar alguém a uma luta, desafio ou repto (opor-se). Logo, fico com a segunda definição.

Gosto de acreditar que não extraímos o máximo das infinitas possibilidades que as experiências (situações, adversidades e desafios) nos trazem. Como já dizia Jean Paul Sartre: “não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”. Ou seja, somos resultado da forma como interpretamos e tratamos os desafios com que lidamos. Nesse sentido, provocar é dissecar as circunstâncias, observando os fatos sob outro olhar, retendo assim os aprendizados.

Vamos a provocação em questão: “se te pedisse para fazer uma lista com todas as coisas que ama, quanto tempo levaria para você colocar seu NOME?”.

Essa pergunta mexeu comigo. Definitivamente Eu não estaria no topo da lista. Possivelmente estaria após meu filho Ricardo, minha vó materna (que enfrenta os desafios dos limites de um corpo de 98 anos), família e logo Eu apareceria.

A questão aqui não está em não ser o primeiro da lista. Mas, estar entre as coisas que realmente são essenciais. Entenda por “coisas” tudo o que existe ou possa existir, de natureza corpórea ou incorpórea. Nesse aspecto, considero que minha lista honra meu momento.

O que me deixou intrigado foi a velocidade com que meu cérebro processou a resposta antes mesmo de chegar ao final da pergunta. Essa é a mágica desta provocação. Se você estiver em dia com sua consciência e autoconhecimento irá exercitar a autorresponsabilidade. Vi muitas pessoas arranjarem desculpas para não admitir que não colocariam seu nome na lista.

O fato de termos dificuldade em nos colocarmos nesta lista está no desafio do Amor Próprio. Somos criados para satisfazer as vontades das pessoas que estão ao nosso redor desde cedo. Dizer um “Não” para os Pais e núcleo familiar é uma afronta, motivo de castigo e palco para sermos tachados como ingratos, antes mesmo de sabermos o significado de tal palavra.

No geral, não temos nosso tempo respeitado, somos obrigados a sorrir para todos e nos anularmos quanto aos nossos gostos e o que consideramos importante. Infelizmente levamos isso para vida adulta. Dizer “Não” se torna desafiador. Fomos criados para agradar e satisfazer o desejo das pessoas e, por consequência, desenvolvemos uma enorme satisfação em sermos atendidos em nossos desejos também.

Que tal um teste? Experimente dizer não para alguém que lhe pede um favor. Mas, sem desculpas. Um “Não” seco. Irá notar que o padrão é que a pessoa imediatamente seja tomada de surpresa, não entenda por que você não pode fazer um simples favor. O mesmo acontece conosco. Quando recebemos um “Não”, ainda que dotados de toda elevação espiritual, engolimos à seco antes de acolher.

Esse ciclo nos tornou adultos que não aceitam “Não” como resposta, sofrem e se vitimam a cada “Não” ouvido ao longo da vida.

Em minha caminhada no desenvolvimento humano e busca pelo autoconhecimento, em pelo menos três oportunidades participei da dinâmica da quebra da tábua. Esta consiste em você escrever numa tábua de madeira algo que precisava abandonar em sua vida e que seria um entrave para o seu crescimento ou para a conquista de um objetivo específico. Coincidência ou não, em todas as oportunidades eu escrevi “Aprender a dizer Não”.

A dinâmica é carregada de um imenso simbolismo e pode ser o gatilho que irá desencadear uma série de ações objetivas e práticas na busca pela concretização do desejo. Mas, no meu caso, a crença na importância da validação do outro e do desejo de agradar as pessoas estava tão profundamente enraizada que esses gatilhos não foram suficientes.

Tudo no seu tempo. Pouco mais de um ano se passou da última tábua quebrada para que a primeira ficha caísse. Precisou apenas de uma determinada fala para perceber que ali existia uma violação, um abuso. Percebi naquele momento que os “Nãos” não ditos podem nos colocar numa posição de subserviência.

Foi assim que me senti. Percebi que toda minha capacidade realizadora, toda a energia que sempre coloquei nos meus projetos estavam sendo drenados. Me senti na época de escola, quando aquele colega mais relaxado pedia para colocar seu nome no trabalho do qual ele não teria movido uma palha.

E para minha surpresa vivi um luto. Relutei em aceitar que pessoas que sempre reservei respeito e admiração me usavam. Neguei, senti raiva e acolhi. A partir daí me abri para viver plenamente o amor próprio. Quem se ama não se permite ser usado.

O que fiz com isso? Criei um plano. Fiz um Planejamento Consciente de todos os “Nãos” que precisavam ser ditos. Nessa lista tinham sociedades em negócios, parcerias, pessoas e algumas rotinas.

Além dos “Nãos” específicos, firmei o compromisso de honrar as minhas escolhas. Fui aos poucos comunicando de forma sutil às pessoas da minha rede que este plano estava em andamento e que elas não se admirassem e nem me julgassem mal caso elas também recebessem um “Não”, e que se acostumassem a lidar com esse novo ser, autêntico e sempre desejoso em servir, mas que deixara de fazer tudo para agradar e perpetuar o padrão de manter-se nulo perante as “violações” percebidas.

Segundo Carl Jung: “sua visão se tornará clara somente quando você olhar para o seu próprio coração. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta”.

Essa é a magia do autoconhecimento: despertar. Perceber que as pessoas não são culpadas por você entrar em projetos que não queria, por você exercer a profissão que não escolheu ou por você se permitir fazer concessões em relação que violam sua liberdade.
Você é plenamente responsável pelas escolhas que faz e pelos “Nãos” não ditos.

Vamos dar mais um passo no nosso Planejamento Consciente?
Liste tudo o que gostaria de dizer “Não”.

• Relações ou a forma como você se colocou nelas (comportamentos e rotinas);
• Negócios e sociedades ou a forma como isso impacta ou está alinhado a pessoa que deseja ser de agora em diante;
• Estudo. Isso, estudos. Muitas vezes queremos saber de tudo e sermos excelentes em tudo. As vezes essa “autoridade” faz sentido apenas para quem queremos demonstrar ser e não para o que efetivamente desejamos ser;
• Parcerias ou a equidade delas.

Depois de completa a lista peço que olhe com bastante atenção e aceite que todos os “Nãos” não dados e a sua percepção de violação ou abuso foi por um bem maior. Tudo isso fez parte da sua construção. Honre isso e agradeça por cada experiência, por mais desafiadora que tenha sido.

Lembre-se que o segredo está no equilíbrio. Segundo Bert Hellinger, existem leis que regulam os sistemas e para a harmonia desses sistemas deve existir ordem. Para ele a segunda ordem do amor é dar e receber na mesma proporção. Então, fique atento(a) a cada sinal de que nas suas relações você está dando (se doando) mais do que recebendo (expectativas declaradas não atendidas).

Antes de sair por aí dando “Não” indiscriminadamente, comunique às pessoas do seu novo momento e declare suas expectativas em cada uma das relações em que faz parte. A partir daí poderá medir o equilíbrio em cada uma das relações.

Voltando ao planejamento, ponha data limite e metas para tratar cada um item da lista. De forma consciente perceba que algumas rupturas, caso necessárias, deverão ser feitas com mais tempo e dependerá de um novo plano.
Por exemplo: se notar que não disse “Não” em seguir a profissão da família e não consegue se encontrar nela, demandando alto grau de energia e estresse para exerce-la, terá duas opções: ressignificar esta profissão, agora tomado(a) de uma maior consciência, dar novo rumo a carreira ou iniciar um novo negócio/profissão. Para os dois casos tenha sempre em mente que quando fazemos algo desafiador de forma consciente e com um porquê (propósito) claro, o percurso torna-se leve e rico em aprendizado.

Ao final da execução do seu plano perceberá que tudo que ficou é o que realmente importa. Relações equilibradas, negócios e profissões conectados com a sua essência e uma vida leve e plena de felicidade e amor.

Tenha um excelente Planejamento Consciente.

Marcelo Reis
marcelo.reis@estimuladamente.com.br

Colaboradores

Marcelo Reis

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