09/05/2019 Autoconhecimento & Espiritualidade
Ser mãe é realmente padecer no paraíso? Uma reflexão sobre o papel das mães e suas implicações
Deixando-se de lado questões femininas ou machistas, trago aqui uma reflexão sobre o Ser mãe. Quem será esse ser que, durante aproximadamente 9 meses carrega um outro ser dentro de si e depois o vê crescer, se desenvolver, ir para a vida e, algumas vezes…, morrer?
Será que existe:
Mãe boa?
Mãe má?
Mãe mais ou menos?
O ser mãe, inicialmente passa pelo Ser mulher, e esse Ser mulher passa pelo Ser humano, com todas as suas partes, distorcidas ou harmoniosas.
Sendo assim, quanto mais você se aprimorar como ser humano e como mulher, melhor mãe para seus filhos você será. E a que se refere esse aprimoramento?
Inicialmente, precisa se re-conhecer, olhar para si mesmo com olhos abertos e imparciais, sem julgamento, olhos de criança curiosa para descobrir seu mundo interior.
Quem sou eu? Quem sou eu? Quem sou eu?
Essa pergunta precisa se repetir muitas e muitas vezes, na intenção de, aos poucos, ir descortinando mais e mais suas características, desde as mais marcantes até aquelas escondidinhas no submundo do seu subconsciente. E trazer à tona o material existente no subconsciente não é tarefa das mais fáceis, nosso ego não quer ver aquilo que não é tão bonito assim.
Na edição anterior dessa revista, falei das máscaras. Nossos egos adoram vestir a “Dona Máscara”, na intenção de enganar ao outro e muitas vezes enganar a si mesmo, mostrando ao mundo uma pessoa idealizada, em oposição ao nosso Ser Real.
As máscaras são criadas para fugirmos da dor de olharmos para nossas imperfeições, nos afastando da realidade do que somos, nos possibilitando mostrar aos outros uma caricatura da pessoa que achamos que deveríamos ser ou que gostaríamos de ser, com base em imagens mentais idealizadas.
No papel de mães idealizadas, seguimos nossos modelitos preferidos, escondendo nossos dissabores, pois na idealização do papel de mãe tendemos a nos basear no conceito falso de que podemos evitar as imperfeições, decepções e rejeições tanto em nós quanto em nossos filhos.
E assim seguimos, vestindo máscaras de sempre amorosas, sábias, super poderosas, cuidadosas, gentis, sem medos e sofrimentos, numa atitude compulsiva que nega sua imperfeição, suas dificuldades internas, dando lugar ao orgulho e à falta de humildade; ou seja: padecendo no paraíso aparente que a sociedade cria e nós reforçamos.
Ser mãe, abrindo mão da imagem idealizada, é também ser amorosa, sábia, poderosa (não super poderosa), cuidadosa, gentil; isso em conjunto com ser raivosa, orgulhosa, frágil, agressiva, medrosa e insegura; ser uma pessoa de verdade, tentando se melhorar. Somando-se a isso, muitas vezes sofrer com as consequências advindas da gestação, tantos as físicas quanto as emocionais, potencializadas pelas alterações hormonais.
Ser mãe de verdade é estar em conexão com o centro do seu ser, com a verdadeira pessoa que você já pode ser. O centro do seu ser é sua única parte que pode sabiamente lhe guiar, pois ele é, por característica própria, flexível e intuitivo. Nesse centro não existem cobranças descabidas, seus sentimentos, por si só, são verdadeiros e válidos mesmo que, durante um período, ainda não estejam plenamente preenchidos de verdade e realidade, perfeição e pureza.
E onde estaria o paraíso, cantado em prosas e versos? Tem uma música de Bruno e Marrone que diz: …” é mais bonita do que tudo que há na terra, semeia a paz onde tem guerra, é o sinônimo do amor” Ah… isso nos dá tanto poder… talvez poderia ser…O paraíso!
Mas, o que é mesmo o paraíso? O paraíso é respeitar seus limites e possibilidades, aceitar-se como é, sem classificações, com a certeza de não ser boa, má ou mais ou menos e sim uma mãe suficiente para seus filhos, uma pessoa de verdade, com suas crenças e limitações, tentando se transformar em uma mulher melhor e consequentemente uma mãe melhor. Mas… melhor para quem? Para si mesma, pois somente sendo melhor para si mesma você será uma pessoa feliz de verdade; e pessoas felizes de verdade, aí sim, são o sinônimo do amor e podem contribuir para que seus filhos sejam (também) felizes.
Pessoas felizes encontram o equilíbrio entre dar e receber amor, dando de si mesma segundo suas possibilidades e a cada filho segundo suas necessidades (parodiando Karl Marx). E quando falo de necessidades, falo de necessidades reais e não daquelas criadas pela sociedade de consumo: falo de amor, carinho, proteção, alimentação, de um ambiente saudável para o desenvolvimento desses seres que nos são/foram confiados.
E novamente citando, agora Orlando Moraes: “O que vem a ser felicidade? É um estado, é uma capital, é um pais? O que há de mais maravilhoso é descobrir que o tempo inteiro estava a um palmo do nariz”. Felicidade nesse contexto, é aceitar a vida como é, daquele lugar de aceitação não acomodado, sem perfeccionismo, valorizando os breves momentos da vida e se trabalhando para ser a cada dia uma pessoa melhor.
Uma pessoa que se trabalha para ser melhor, também pode criar filhos melhores e assim, ao invés de padecer no paraíso, poderá viver no paraíso possível.