07/03/2019 Especial
Mindfulness: Treine-se para viver suas experiências cotidianas
Desejo iniciar este tema com um lindo poema que nos traz lucidez e despertar de consciência para este assunto. Chama-se: “A Casa de Hóspedes.” Permita-me descrevê-lo em sua veracidade e inteireza:
O ser humano é uma casa de hóspedes. Toda manhã uma nova chegada. A alegria, a depressão, a falta de sentido, como visitantes inesperados. Receba e entretenha a todos. Mesmo que seja uma multidão de dores. Que violentamente varrem sua casa e tira seus móveis. Ainda assim trate seus hóspedes honradamente. Eles podem estar te limpando para um novo prazer. O pensamento escuro, a vergonha, a malícia, encontre-os à porta rindo. Agradeça a quem vem, porque cada um foi enviado como um guardião do além”. — Rumi.
Em algum momento da vida você se sente exatamente assim como esta “Casa de Hóspedes”? E se sua resposta for positiva, como você age ou reage a cada hóspede que lhe chega à porta? Consegue experimentar o que acontece instante a instante na prática? “Ficar de bem” com o que você é ou com seus visitantes diários?
Quero testemunhar que a prática do Mindfulness trata-se do estado de presença, da autorregulação emocional e atencional, transformações sutis diárias para a equanimidade. Práticas estas que são bastante desafiadoras, afinal olhar profundamente para nós mesmos (conhecer e reconhecer) e para as coisas como elas verdadeiramente são é sem dúvida alguma um ato de coragem e despertar de consciência. Porém, o Mindfulness nos ensina a regularmos nossa atenção para viver e sentir as experiências do real tamanho que elas realmente têm, sem sofrimentos extras, o que chamamos isso de experiência secundária. E este é um dos principais paradoxos do Mindfulness.
Alguns conceitos transmitem a ideia que o Mindfulness significa estar com a mente vazia ou não fazer nada, ou até mesmo uma prática para o relaxamento (que de certo é uma consequência da prática meditativa formal, não o seu objetivo principal). Alguns outros, como algo mágico ou milagroso para uma vida plena e feliz no país das maravilhas! E isso também não é verdade, pelo contrário, o Mindfulness significa habitar seu próprio corpo e percebê-lo em todos os sentidos: emoções positivas e negativas!
Tal como um Chek-in diário, e então com habilidades, consciência e gentilezas (sem julgamentos ou criticismo) conseguimos lidar com as experiências diárias da nossa própria “Casa de Hóspedes” da vida real! Pois ao percebermos a presença “deles”, abre-se a oportunidade para escolhas, ou seja, como você reagirá a cada um deles? Como você os percebe, ou como os trata? Assim você aprende a desenvolver uma postura de observador, atento a tudo que se manifesta na sua mente, ancorando sua atenção no que realmente importa, criando novas possibilidades e abertura para a criatividade de responder pensadamente e não impulsivamente!
O Mindfulness nos ajuda a equalizar a balança entre o negativo e o positivo com consciência, aproximação, curiosidade, aceitação, gentilezas e atitude ativa. Acolha! Contemple! Aja de maneira criativa e diferente! Isso lhe parece possível? O Mindfulness lhe convida a ser corajoso frente às dificuldades das emoções na prática! Para fazer a diferença em sua vida é preciso fazer algo diferente: o Mindfulness pode tornar-se uma habilidade a ser incorporada no seu cotidiano para uma nova musculatura emocional.
Treine-se para viver suas experiências cotidianas, fortalecendo seu músculo de tolerância ao estresse e desconforto interno ou externo. Sendo assim você contemplará novas experiências de uma vida humana equânime dentro e fora de você mesmo e, possivelmente, concordará com esta nobre citação:
“Tendo procurado no mais profundo das montanhas longínquas achei o meu lar. Meu lar, onde tinha sempre vivido.”
EiHei Dogen
Com gratidão e amor fraternal