21/05/2019 Relações Comunitárias
Preconceito
Olá caros leitores da EstimuladaMente! Que felicidade novamente podermos desfrutar do nosso bate papo amistoso.
Há tempos que venho me inquietando com muitas coisas. E esta inquietação tem me tirado da minha zona de conforto ideológica e me levado a muitos lugares que me impulsionam às militâncias, ainda que seja para mim a sua forma mais tímida.
Neste mundo globalizado, interligado por redes e fios visíveis e invisíveis que nos conecta a todos virtual e ideologicamente, vez ou outra vejo, leio e ouço coisas que me levam a questionar: como estão mesmo nossas relações mais próximas, cara na cara, pele na pele, com este monte de (seres)humanos que a cada momento passa por nossa caminhada ainda que nela não permaneça?
Quando destaco “seres” humanos, me pego na certeza de que o termo ser é a essência desta caracterização biológica que nos classifica como homens (homo sapiens: homem que sabe, homem sábio). Ser carrega em si o que somos como homens diante do mundo, para o mundo, com o mundo, por consequência do mundo. Ser alguém é resultado por um lado da perspectiva macro contextual, ou seja, a influência cultural e social da criação e construção do ser por meio da concepção de moral, tradição, hábito, crença, costume etc; por outro lado da perspectiva micro contextual, ou seja, a influência da especificidade do meio social, ambiental e familiar no qual o indivíduo está inserido. E, lógico, que dentro da minha construção de ser EU, devo acrescentar o livre arbítrio, ou seja, as escolhas que tomo dentre as infinitas possibilidades que me são apresentadas para me tornar quem EU SOU.
Diante deste entendimento do que é ser “ser humano”, retomo meu questionamento sobre como estamos nos relacionando neste mundo, nas nossas vivências cotidianas mais próximas e que nos faz agir e pensar de acordo com o que somos enquanto humanos.
Infelizmente, apesar do politicamente correto, da evolução jurídica e social quanto a comportamentos hoje considerados crime, e a nível de Brasil, de toda a campanha e discurso de que vivemos numa sociedade de paz e de democracia racial etc, na prática e na vivência mesma de quem não está no lugar privilegiado de fala, não é bem isso que vemos e sentimos.
Não vou, nesse nosso bate papo, adentrar em situações apresentadas diariamente nas redes sociais, meios de comunicação e nas relações do dia a dia que são apresentados a cada segundo, pois meu interesse não é o apelo emocional, tão pouco o “vitimismo” de grupo, mas lançar para vocês alguns, dos muitos, conceitos para seus conhecimentos, reflexão, sensibilização e ação.
Então, vamos ao nosso “mini elucidário”?
Discriminação: Transgressão do direito de um indivíduo ou grupo. Rege a Constituição Federal de 1988, que:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil
[…] IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; […] VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
[…] XXX – proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;
Ratifica-se na Lei 7.716, de 1989, que: Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Preconceito: É uma opinião ou sentimento hostil que se constrói sobre uma pessoa ou um grupo, tendendo a inferiorizá-lo(s), baseado na ignorância ou em estereótipos e motivado por julgamentos infundados ou generalizações apressadas, uma vez que não há fatos relevantes para comprová-los.
É preconcepção, ou seja, conceber ou conceituar previamente; antecipar juízo de valor antes de conhecer.
O preconceito pode sofrer alteração ao longo dos anos, a partir das mudanças culturais, sociais e jurídicas, como também pode resultar em discriminação.
Preconceito racial: Preconcepção negativa ou depreciativa baseada na raça, etnia ou cultura considerando inferiores indivíduos ou grupos que pertençam à determinada raça/etnia ou cultura. Também pode ser conhecido como racismo.
Preconceito social: Preconcepção negativa ou depreciativa baseada na classe social. Pode acometer à classe social mais baixa, rotulando-os, por exemplo, como preguiçosos ou acomodados por não buscarem ascensão social, já que no imaginário ideológico “quere é poder”; como também pode ser direcionado à classe social mais alta, rotulando-os, por exemplo, como exploradores e inescrupulosos por estarem no topo da estratificação social somente por ter sido conquistado pela sobreposição e exploração aos demais indivíduos.
Preconceito religioso: Aversão ou intolerância baseado nas crenças religiosas. Pode ser direcionado tanto para indivíduos pertencentes a uma determinada religião, quanto para os ateus e para os agnósticos1.
Preconceito de gênero ou Sexismo: Preconceito direcionado às diferenças entre os papeis socioculturalmente (homem/mulher) atribuídos aos diferentes sexos (macho/fêmea), privilegiando um em detrimento do outro. O sexismo, mais comumente usado como sinônimo de machismo, é um tipo de preconceito que tende a acometer mais social e culturalmente às mulheres, a partir do desprezo, desqualificação e depreciação como seres de menor valor ou prestígio, podendo resultar em discriminação, violência (emocional, psicológica, patrimonial, moral, social e física), até mesmo a morte (feminicídio).
Homofobia, Lesbofobia e Transfobia: Preconceito motivado pela orientação sexual, e que se caracterizam por antipatia, desprezo, medo, aversão ou ódio em relação aos(às) pessoas identificadas ou percebidas como lésbicas, homossexuais, bissexuais, transgêneros, transexuais e travestis (LGBTTT), podendo resultar em discriminação e violência, até mesmo a morte.
Preconceito linguístico: Desrespeito às variações linguísticas, ou seja, ao modo como um indivíduo ou grupo fala. Ocorre quando falantes de um mesmo idioma ridicularizam, depreciam e inferiorizam o outro ou um grupo baseado na diferença de sotaques, dialetos, gírias, regionalismos, comunicação de um determinado grupo social ou cultural.
Por ora acredito que seja o suficiente para começarmos uma boa análise sobre o que vem acontecendo mundo afora. Conforme salientei, não pretendo adentrar em percepções pessoais sobre os temas expostos, mas trazê-los para a reflexão, para que cada um dos meus caros e preciosos leitores, independente de nacionalidade, gênero, raça/etnia, credo, orientação sexual, cultura, origem social e o que puder fazer parte desta diversidade de (ser)humano, possa se reinventar no seu modo de lidar com o outro, com o diferente de si, com as multi e infinitas possibilidades de SERmos humanos.
#ficaadica: pense, reflita, olhe ao seu redor, leia no mundo virtual das redes sociais, dialogue com seus pares profissionais, escolares e/ou sociais e conclua com criticidade: que ser (humano) você é neste espaço sóciocomunitário em que está inserido?
Nota:
1 Segundo Cruz (2015), “ateus não acreditam em um deus e negam sua existência, Um agnóstico pode ser ateísta – não consegue provar a existência do deus nem acredita nele – ou teísta – não consegue provar a existência do seu deus, mas admite a possibilidade de ele existir”. (Fonte: CRUZ, Felipe B. Qual a diferença entre um ateu e um agnóstico? [on line]. Revista Superinteressante, 2015. Disponível em: < https://super.abril.com.br/mundo-estranho/qual-a-diferenca-entre-um-ateu-e-um-agnostico/>)
REFERÊNCIAS E LEITURAS RECOMENDADAS
BACILA, Carlos Roberto. Criminologia e Estigmas: Um estudo sobre os Preconceitos. São Paulo: Gen Atlas, 2016.
CROCHIK, José Leon. Preconceito, indivíduo e cultura. 2. ed. São Paulo: Robe Editorial, 1997. 152 p. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 4, n.8, p.1124-125, jan./abr. 2003.
LIMA, M. E. O.; PEREIRA, M. E. (Org.). Estereótipos, preconceitos e discriminação: perspectivas teóricas e metodológicas. Salvador: EDUFBA, 2004. 300p.
GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Classes, raças e democracia. São Paulo: Editora 34, 2002. 231 páginas.
THOMAZ, OMAR Ribeiro. Democracia por entre classes e raças. Revista Brasileira de Ciências Sociais – vol. 18, nº. 53, out. 2003, p. 170 – 172.