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09/11/2018 Sustentabilidade

Ofereça mais que brinquedos. Ofereça mais vida!

Quando pensamos nas nossas crianças enquanto pais e provedores, nos preocupamos em dar a melhor escola, as melhores roupas, os brinquedos mais tecnológicos. Ou quando somos acometidos por alguma consciência social, saímos levando brinquedos e roupas para crianças em instituições ou zonas pobres no dia das crianças. Dar, dar, dar COISAS. Reproduzimos assim um modelo defasado e antiecológico de vida, onde o TER é mais importante do que o SER e que o consumo é a base de tudo. Afinal, quais valores queremos transmitir para nossas crianças? Que mundo queremos deixar para as futuras gerações?

Longe de mim desestimular a prática de dar presente no dia das crianças, mesmo sabendo que datas como dia das mães, dia dos pais, Natal e similares foram criadas para aquecer o consumo. Então compramos literalmente a ideia e acreditamos muitas vezes que dar brinquedos é o único meio de deixar uma criança feliz. Grande engano. Os problemas familiares, entre eles, os maus tratos, a cobrança exagerada por parte dos pais e da sociedade em relação ao comportamento das crianças e adolescentes, e a falta de contato da criança com os pais em função das responsabilidades profissionais e necessidades de sobrevivência, o que impede um vínculo afetivo positivo, são fatores que contribuem para crianças desenvolverem transtornos psicológicos como a depressão infantil, sem falar nos transtornos que se manifestam tardiamente na vida adulta.

Assim, voltarei à primeira pergunta: quais valores queremos transmitir para nossas crianças? No Brasil, diferente de muitos países desenvolvidos, não há restrições para publicidade infantil, fazendo com que esses pequenos consumidores sejam alvos fáceis. Nos intervalos da programação infantil, a criançada é simplesmente bombardeada por propagandas de brinquedos, onde um mundo feliz e perfeito ou um mundo de fantasia e diversão só serão conquistados com a boneca da super-heroína da série mais famosa ou com o veículo que faz movimentos mirabolantes. Há estudos sérios sobre a grande influência que as crianças exercem na decisão de compra dos adultos. Imaginem o poder de persuasão de uma criança em uma data como o dia das crianças? E isso não acontece apenas com crianças de classe média e alta que convivem nas escolas com a disputa da roupa da marca mais cara e popular, e que são vítimas das comparações sobre o presente mais cobiçado do momento. Já vi pais e mães humildes se desdobrando para realizar o desejo de consumo de seus filhos.

Repito: que valores queremos transmitir para nossas crianças? Mais do que falar, precisamos dar o exemplo. Há grandes distorções quando ensinamos as nossas crianças que elas valem mais pelo que vestem e usam do que pelo ser humano cheio de possibilidades que são. Ou quando alimentamos a falsa ilusão de que na vida não há limites. Há limites, e muitos. Pois o nosso direito de consumo termina quando avaliamos o quanto estamos consumindo do planeta e o estrago que já deixamos de legado para as futuras gerações.

Essa é a minha deixa para falar de uma responsabilidade de todos os adultos, sejamos pais ou não. De acordo com a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas, Desenvolvimento Sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade do planeta de atender as necessidades das gerações futuras. Será que estamos conscientes disso no nosso dia a dia? O futuro das crianças é responsabilidade de todos.

A sustentabilidade na educação infantil é um conceito que precisa ser trabalhado em conjunto pela sociedade como um todo. Entretanto, parte importante do ensinamento da sustentabilidade no contexto da educação infantil começa em casa. A ajuda dos adultos em conversas com seus filhos, netos, afilhados, sobrinhos (entre outros laços não necessariamente biológicos) sobre o que é o consumo e quais os seus efeitos, o ensinamento sobre temas como descarte do lixo, alimentação, desigualdade social, o que é e como funciona a reciclagem são iniciativas que ajudam as crianças a construir um melhor entendimento sobre questões ambientais. Isso tudo contribui para uma mudança de atitude e comportamento.

A Fundação Abrinq – conhecida entidade que trabalha na defesa dos direitos das crianças e adolescentes na educação de qualidade, saúde, proteção contra a violência, trabalho infantil e diferentes tipos de fragilidades – divulgou a terceira fase de uma série de estudos por meio do relatório ‘A Criança e o Adolescente nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável’.  O documento analisa como o Brasil tem trabalhado para cumprir as metas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015, das quais 193 países são signatários. São 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, entre eles a erradicação da pobreza, igualdade de gênero, educação de qualidade, paz, justiça e instituições eficazes, além de 169 metas a serem atingidas até 2030. Apesar do otimismo do documento, ainda não evoluímos muito de acordo com as deficiências do sistema público de ensino e com um alto índice de mortalidade de crianças e adolescentes, vítimas da violência.

Diante de tantos desafios, crianças e adolescentes devem ter foco prioritário de ação para os países comprometidos com o desenvolvimento sustentável. Veja algumas sugestões de como construir “Um mundo mais próspero com ajuda da nova geração”:

  1. CONSCIÊNCIA À MESA – Nada de desperdício.
  2. MENOS É MAIS – A política dos 5 Rs significa Reduzir e Repensar o consumo, Reutilizar e Reciclar antes de jogar fora e Recusar produtos que fazem mal aos seres vivos e a Natureza.
  3. SEMEAR VIDA – Crianças em contato com bichinhos e plantas serão adultos conscientes do valor da Natureza.
  4. ENERGIA TEM VALOR – Ligar luz e aparelhos apenas quando for usar.
  5. ÁGUA VALE MUITO MAIS – Além de boa parte da nossa energia vir das águas, esse elemento é fundamental para a VIDA. Fechar torneiras durante banhos, lavagem das mãos e dentes.
  6. PERNAS FORTES – Deixe o carro na garagem ou evite pegar transporte para locais próximos. Xô preguiça sem emissões de carbono!
  7. É BOM COMPARTILHAR – Trocar brinquedos, dar roupas pequenas para as crianças menores ou para o Bazar e compartilhar dispositivos eletrônicos com jogos coletivos.
  8. JOGOS E VÍDEOS ECOLÓGICOS – Falando em novas tecnologias, a rede está cheia de recursos para instruir a galerinha sobre questões ecológicas.

QUEM AMA, CUIDA.

Colaboradores

Carla Visi

carlavisi@uol.com.br