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09/11/2018 Mecânica Quântica

Síndrome do imperador

Eu pratiquei mecânica quântica quando eu era criança. A tese é praticada involuntariamente todo o tempo de nossas vidas. Há uma fusão de energias em constante movimento, desde a concepção da consciência aos 49 dias de gestação no momento da formação da glândula pineal, responsável pela produção do sono e que permite sincronizar o organismo entre dia e noite. Já na sétima semana, o feto encubado no seu invólucro inicia sua vida consciente de forma sistêmica para iniciar sua jornada, eis, então, mais um ser emissor de energia participante do inconsciente coletivo mundial.

A frase do psicanalista Carl Jung: “Todos nascemos originais e morremos cópias” interpreta o caminho comum do ser humano na terra. A criança é um grande produtor de pensamentos e tem em si uma força mental capaz de agir, fazer, se defender e atacar; e ter o que ela deseja. Porém, o hemisfério direito cerebral que guarda o raciocínio ainda não está pleno, apenas seu lado esquerdo do cérebro está evidente e mais ativo. O lado sincero e autêntico de um ser pequeno é a essência original de alguém que fala o que pensa e quebra qualquer protocolo do mundo adulto, pois não há um freio moral devido sua inabilidade de pensar e repensar em fatores de causa e efeito. “Há poder nas palavras”, apregoa a física quântica. Tem razão. Há poder sobremaneira em qualquer tipo de lucidez autêntica desde muito novo.

Eu tinha um “amiguinho” no condomínio em que eu morava que, certa vez, negou me emprestar sua bicicleta. Eu me enfureci de tal forma e praguejei em um grito enquanto ele partia pedalando: “tomara que quebre essa carroça”, e como em um passo de mágica, vi o menino franzino cair no chão imediatamente após passar um quebra-molas na rua.

As leis quânticas corroboram com a síndrome do imperador? Sim. Uma criança determinada pode se sobrepor ao equilíbrio do lar para se tornar o foco da casa e ter todos os seus desejos irresponsáveis realizados. A ânsia dos pais de fazer seus filhos felizes e, assim sendo, precaver em demasiada cautela, a qual inibe episódios de frustração da criança, criam-se pequenos totens narcísicos petulantes.

Os benefícios de uma frustração no período recente da vida é de suma importância para a autonomia consciente. Muitos pais de hoje não estão usando o estímulo correto e por isso induzem a criação de um pequeno super-herói ou uma pequena princesa “dondoca” que não ajuda, sequer, a lavar a louça do almoço. São pequenos imperadores autoritários e mandões que se acham o dono de tudo e de todas as pessoas. Há uma estimativa assustadora do crescimento dessa síndrome. A personificação da criança é parte obrigatória dos pais que são os primeiros arquétipos perante sua visão.

“A educação tem raízes amargas, mas os seus frutos são doces.” (Aristóteles)

Um filho é uma energia divina. Até seus 6 anos nós pais temos a chance de erguer e construir um grande caráter em forma de homem ou mulher. Estes seis anos de investimento de tempo de qualidade e ensinos vitais são determinantes para que ela se situe no meio em que quer viver e estar. A energia dos pais influencia a vibração dos filhos. Eles são resultados da escolha de nossos pensamentos em relação a elas. Quem compreende o poder das energias sabe que jamais se deve ofender um filho, desmerecê-lo  ou castigá-lo, mas sobretudo discipliná-lo orientando aquilo que a física quântica postula, tudo que se planta é exatamente o que se colhe.

Há canções que nos transportam para nossa infância ao mesmo tempo em que nos transcendem para um portal no passado que nos emocionam, e que talvez entristeça alguns pelos anos sofridos no passado.

Disse o Cristo: “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus.” (Mateus 18:3). Nestas palavras, Jesus se referia a nossa criança interior. Ela é necessária nesse sistema holístico da espiritualização. Mas quem é ela? Onde está? O que faz essa pequena luz dentro da minha história infantil?

Na psicologia analítica de Jung, observamos o que ele chamou de “self”, que é o princípio organizador de toda a psiquê. Sabe-se que até os 6 ou 7 anos é que acontecem os registros mais importantes ou principais no subconsciente. Essa faixa etária é a idade já disposta para finalmente existir o “self” de maneira influente, energeticamente falando. É nessa fase que acontece a memorização ou o arquivamento das informações que permite a nossa individuação. Aquelas pessoas que não reconhecem ou não se encontram com sua criança interior não poderão transformar sua realidade segundo a fenomenologia quântica. Há pressupostos e verdades provisórias que, portanto, instaladas no subconsciente, apenas ao se lançar para o passado mais tenro possível, permite serem acessadas nessa infância obscurecida.  Se quero transformar minha vida e me livrar dos pensamentos traumáticos, há como mudar as informações nocivas adquiridas no início da vida ao olhar bem nos olhos desta criança latente escondida dentro da alma. Ela espera um contato, um aceno para o resgate da essência de uma criança pura e autêntica. Como diz a canção de Milton Nascimento:

Há um menino, há um moleque

Morando sempre no meu coração

Toda vez que o adulto balança

Ele vem pra me dar a mão

Há um passado no meu presente

O sol bem quente lá no meu quintal

Toda vez que a bruxa me assombra

O menino me dá a mão

Ele fala de coisas bonitas que

Eu acredito que não deixarão de existir

Amizade, palavra, respeito

Caráter, bondade, alegria e amor

Pois não posso, não devo

Não quero viver como toda essa gente insiste em viver

Não posso aceitar sossegado

Qualquer sacanagem ser coisa normal

Bola de meia, bola de gude

O solidário não quer solidão

Toda vez que a tristeza me

Alcança o menino me dá a mão.

Eu tenho uma frase que diz: “quem parte sem destino, desembarca no acaso.” Se somos vítimas de uma criança interior deformada, é preciso encontrá-la e abraçá-la incondicionalmente.

90% das pessoas tiveram uma infância com traumas, claro que em medidas diferentes. Recorrer à criança interior é buscar força renovada para lidar com as pressões externas na vida adulta. Jesus dá o exemplo quando algumas delas o avistaram e foram correndo até Ele. Os mais adultos disseram para que o deixassem e Jesus diz: “Deixa-me vir as criancinhas, pois delas é o reino de Deus”. A criança interior é um acúmulo de informação e cada um de nós tem uma “escondidinha” no âmago do coração

“Em todo adulto espreita uma criança – uma criança eterna, algo que está sempre vindo a ser, que nunca está completo e que solicita cuidado, atenção e educação incessantes. Essa é a parte da personalidade humana que quer desenvolver-se e tornar-se completa”. (Carl Jung)

A criança interior é um ser dual. A física quântica é o estudo da menor partícula que está vibrando feito uma corda de violão. Os movimentos dos átomos paralisam e se tornam conclusivos sob visão do observador. O sistema de vida de cada um é um resultado da forma de pensar. Ser dual é ter o poder de decidir o “statuo quo” e alterá-lo se quiser. A criança tem essa dualidade muito bem definida. Ela pode estar triste ou alegre assim como pode amar ou odiar ao mesmo tempo. Ela chora ou ri e se sente livre para isso, contudo, também mente e fala a verdade, faz pirraça e fica em silencio, é ciumenta, tem inveja. Vejamos essas várias facetas citadas ela expressa isso claramente, são reações e sentimentos legítimos que fazem parte da alma humana. Não há como uma criança ser responsável pelos seus atos. Ela apenas reage ao que foi inserido dentro dela.

Ao resgatar a criança das profundezas da alma podemos salvar três marcas fortes e preciosas que estão faltando a nós seres adultos. A veracidade, autenticidade e sinceridade carecem nos dias atuais, e nesse momento estou com uma canção em minha mente que cantava na igreja na classe infantil: “Como uma criança sim, eu quero ser, com cristo em meu viver irei renascer.” Como foi lindo, intenso e puro. Seja você, só você, nada mais que você sempre.

Tão grato.

Colaboradores

Jean Savedra

jeanricardosav@gmail.com