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06/01/2021 Contos de Família

Uma história de amor

Vivemos um 2020 de muitos desafios, que nos convidou a estar muito mais conectado com nosso interior, num convite urgente de retomarmos com muita força a nossa história familiar. Eu já venho nesse movimento faz algum tempo, numa busca do meu genograma, estudo de meu mapa astral e reconhecimento dos causos e das culturas que permearam as mulheres de minha família. Outro dia, numa conversa com minha mãe, eu relembrava da força de minha avó materna com seus rezos, seus benzimentos com ervas e as maravilhosas garrafadas que os vinhos faziam filas para conseguir um pouco para se curar de seus males.

Sendo assim, essa narrativa vem de um lugar muito profundo. Contar a minha história, é antes de qualquer coisa, um resgate de mim mesma. Escrevo para me escutar, para por ressonância da vibração de minha voz interna, conseguir encontrar meu lugar no mundo e me situar em consciência presente de ser mulher.

Em uma festa os meus pais se encontraram. Um dia bem simbólico, dia de Santa Bárbara, 04 de dezembro de 1970. Ela vestia um modelito estilo “melindrosa”, pele de onça. Ele, uma camisa de listras preta e roxa, uma calça e um chinelo à franciscana. As 19h, o encontro aconteceu. Ao entrar na festa, encontrar minha mãe, a profecia foi lançada. Meu pai, decidido, apaixonado, disse então à minha mãe: “- Que linda você é! Eu vou me casar com você!”.

Uma história tipo a da Cinderela, só que sem sapato. O que meu pai guardou foi apenas a imagem da linda mulher por quem se apaixonou a primeira vista. Foram 30 dias buscando aquela mulher… Incansavelmente até encontrar e enfrentar o velho Ariel, meu avô, para pedir a autorização para cortejar sua linda filha. E assim, aconteceu. Namoraram menos de um ano, casaram-se em 19 de junho de 1971.

Logo após o casamento, veio o desafio do desemprego. Por falta de oportunidades, eles foram embora para o Rio de Janeiro. Meu pai sempre trabalhou com eletrificação, tinha que ir onde estavam as oportunidades. Viajaram por quase todo o Brasil: Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso… Incursões fora do país também: Bolívia, Paraguai. Até firmar residência em São Paulo, onde construíram uma vida boa e confortável. O pano de fundo dessa história era o desejo de um bebê, que nunca chegava. Infinitos exames, tratamentos, todos sem sucesso.

Foi quando veio o maior dos desafios. Aos 35 anos, no auge da juventude e tomada pela esperança da gravidez, a minha mãe teve um AVC Hemorrágico extremamente agressivo, uma sequela de paralisia. Após os tratamentos e gastar praticamente tudo que haviam conseguido juntar de reserva financeira, era mais que urgente o retorno para a Bahia. Enfrentando a doença, sem perspectiva de nada, sem casa e sem dinheiro, meus pais retornaram para a cidade de origem da minha mãe, Alagoinhas, no interior da Bahia.
Foram ajudados por familiares e amigos nesse momento de reestabelecimento de vida. Aos poucos as coisas foram entrando nos eixos, mas gravidez era algo considerado impossível dado o estado que minha mãe se encontrava. Por decisão, eles já pensavam em adoção e até cogitaram com uma tia minha paterna, a possibilidade de apoiar na criação de uma prima que estava prestes a nascer. Foi quando o médico, após uma perícia médica no INSS, chamou a atenção da minha mãe dizendo que ela estava grávida.

Ele afirmava com tanta veemência e ainda assim, ninguém acreditava. Naquela época os exames era bem primários e era necessário que a minha mãe fosse para Salvador. Cheia de esperança no coração, ela assim fez. Ao chegar lá, o médico que fez o exame disse que a gravidez era improcedente e que na verdade o que ela tinha na barriga era um mioma, grande e que exigiria cirurgia. Frustração total. Até que o médico precisou se ausentar da sala e entraram dois estagiários de medicina e pediram a minha mãe para virar de bruços.
Foi um susto para todos! Tinha mesmo o mioma, mas atrás dele, estava eu. Com quase 5 meses de vida, eu já estava bem formada. Assustador para todos, um caso que contrariava a medicina. Uma mulher cheia de limitações, um mioma enorme e um bebê, era algo surreal. Não tinha como fazer parto normal, era preciso ser uma cesariana e de fato, muito complicada. Com muitos desafios a minha mãe sustentou a gestação.

Eu nasci no dia 30 de agosto de 1983, curiosamente no dia do aniversário da minha mãe. A cirurgia foi tranquila e naquele momento minha mãe foi tomada por uma força de cura intensa e profunda. A vontade de ser mãe era maior que qualquer limitação física que ela pudesse ter. Depois de três meses de meu nascimento, a paralisia do lado esquerdo do corpo de minha mãe estava quase curada, a boca havia desentortado e agora só restava vencer o desafio da retirada do mioma. O medo da morte pairava pela nossa família, mas a fala mais comum da minha mãe sempre foi: “Se morrer, morro realizada. Tenho a minha filha”.

Foi uma atmosfera de muito amor e carinho. Uma história inacreditável e ao mesmo tempo reveladora. Ela fez a cirurgia para a retirada do mioma, se recuperou e foi a melhor mãe que qualquer filha pode ter. Aliás, foi não. É! Está viva, com 73 anos, totalmente lúcida e cheia de vontade de viver.

Tem muito mais detalhes que só a gente tomando um chá numa noite de céu estrelado daria para contar. Esse resumo breve apresenta muito do que eu sou e de como essa história começou. Depois de pesquisar isso, tudo na minha vida se justifica. Os caminhos pelos quais passei, os desertos que atravesso e as escolhas espirituais. Tenho certeza que, diante de tanto esforço para estar encarnada nesse mundo, a minha alma tem uma linda missão e um processo de evolução grandioso.

Fica um convite para você. Já conhece sua história? Sabe dos detalhes? 2021 está chegando e com ele uma urgência muito maior de conhecer um pouco mais sobre si mesmo. Num ano regido por Vênus, o primeiro relacionamento que precisamos aprimorar é conosco. Vamos mergulhar em nossas histórias e, a partir disso, firmar nossa missão nas linhas dessa existência. Feliz ano novo! Tenham uma linda jornada de cura!

Amanda Reis
amanda.reis@estimuladamente.com.br

Colaboradores

Amanda Reis

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