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09/11/2018 Tecnologias Sociais

Inovação Social para circulação de moedas: uma outra economia acontece!

Leitores queridos, alguém aqui já ouviu falar de Economia Solidária? Nessa edição apresentaremos a vocês uma experiência inovadora, uma metodologia já premiada pela Fundação Banco do Brasil como tecnologia social. Mas não ficaremos presos a isso, porque a experiência que relato aqui é muito mais abrangente. Apresento a vocês o Banco Comunitário Santa Luzia, localizado no Bairro do Uruguai. Alguns podem pensar “já apresentou a escola comunitária na edição anterior”, isso mesmo! Imagina quanta coisa boa acontece no bairro do Uruguai? Muita gente não conhece, mas estamos aqui para apresentar.

O entrevistado que conta um pouco desse experiência é Carlos Eduardo Dias Barbosa, conhecido artisticamente como Baby. Isso porque nosso entrevistado é uma liderança local, um dos integrantes da Associação Comunitária Santa Luzia, colaborador da escola comunitária Luiza Mahin é cantor e compositor. Ele nos explica que o bairro do Uruguai é o maior e mais populoso entre os 14 bairros que compõem a península de Itapagipe e também um dos mais empobrecidos, que ainda guarda resquícios de um processo histórico de luta por habitação que iniciou na década de 60 com o surgimento dos Alagados (casa de palafitas sobre a maré). E por conta desse processo de luta, talvez seja o bairro com o maior número de associações, grupos produtivos, culturais, cooperativas e empreendimentos populares por metro quadrado nessa cidade. E muitos desses empreendimentos populares não conseguem acessar o crédito nos bancos oficiais para empreenderem e acabam acessando recurso de agiotas na própria comunidade.

Gente, essa é uma realidade de muitos brasileiros, para muitos pode ser comum ter uma conta bancária e acessar crédito quando quiser ao comprovar garantias para quitar a dívida. Se a gente pensar bem nosso sistema financeiro (tem muitos estudos sobre isso), só dispõe crédito para os que comprovam ter bens para no caso de inadimplência quitar a dívida. No entanto, pessoas que querem iniciar um negócio ou até mesmo consumir para se alimentar não conseguem acessar crédito com facilidade, não possuem o cheque especial, etc.

Nesse cenário, aliado ao contexto de dificuldade de inserção de todos no mercado formal de trabalho, juntamente com outras pautas, em 2001 na ocorrência do Fórum Social Mundial, organizações, movimentos populares, grupos formais e informais, se articularam e criaram o Fórum Brasileiro de Economia Solidária. A pauta comum é a construção (a partir de experiências em curso) de uma economia para todos, justa, solidária e includente. Existe muita produção sobre esse tema, muitas experiências que não daremos conta de aprofundar nesse artigo. Importante saber que o banco comunitário de desenvolvimento está ligado diretamente a esse movimento.

O primeiro banco comunitário do Brasil tem origem na periferia de Fortaleza-CE e tornou-se modelo para muitas outras comunidades rurais e urbanas e até constroem uma rede brasileira de bancos. O banco Santa Luzia é integrante dessa rede e foi inaugurado em 2016. De modo prático, a ideia do banco é promover o desenvolvimento local através de formação, orientação e disponibilização de crédito para o consumo e produção de determinado território. Como garantir isso? Disponibilizando crédito numa moeda própria. Segundo Carlos Eduardo, atualmente o banco oferece crédito para produção para os empreendimentos (formais e informais), crédito para consumo para as famílias locais, além de dispor de acompanhamento técnico para os empreendedores.

Olha só o segredo: ao oferecer o crédito para consumo ele é disponibilizado a partir de uma moeda própria denominada UMOJA. Isso mesmo, os bancos comunitários ligados a economia solidária têm como elemento comum moedas sociais que circulam no território delimitado pelo banco. No Brasil já são 115 bancos, na Bahia temos nove: Banco Quilombola do Iguape, BAMEX; Banco Lhamar; Banco Abrantes Solidário; Banco Amigos do Sertão; Banco Dois de Julho; Banco Santa Luzia; Banco Ecoluzia e Banco Casa do Sol. Cada um tem sua moeda e todos os bancos da Bahia foram elaborados nas comunidades com trabalho conjunto da Incubadora Tecnológica de Economia Solidária da Escola de Administração da UFBA.

Nosso entrevistado explica que o banco do Uruguai está funcionando assim: tem-se duas linhas de crédito, uma para produção, em que o empreendimento é cadastrado e é acompanhado pelo agente de crédito em loco para identificar a realidade do empreendimento e a sua necessidade do investimento requerido. Em seguida é preenchida uma ficha de solicitação de crédito solidário e um termo de adesão, em que o responsável se compromete com a devolução do recurso, que antes de ser liberado passa ainda pela análise do CAC (Comitê de Análise do Crédito). Outra linha de crédito é para consumo, que acontece através da moeda social Umoja que circula no comércio local. São mercearias, armarinhos, farmácias, padarias, lojinhas de roupas, barbearias etc., que aderiram ao projeto.

Importante saberem que para cada um UMOJA que circula o banco tem um real no seu fundo de crédito. Isso quer dizer que se tiver dez mil UMOJA’s em circulação no Uruguai deverá ter R$ 10.000 no fundo de crédito do banco comunitário. Por essa ser uma das limitações, nosso entrevistado afirma que, infelizmente, o banco ainda não consegue atender toda a demanda da comunidade por conta de um lastro financeiro ainda muito pequeno e de uma equipe muito reduzida. No futuro ele espera firmar mais parcerias que comunguem com o nosso propósito de democracia financeira para as comunidades periféricas.

Nossa! Gente, deu pra perceber que tem muita coisa envolvida e uma ideia muito boa que repercute positivamente na vida das pessoas. Quer saber mais? Pesquise sobre, visite o banco comunitário e fiquem ligados na nossa próxima edição! Lembrando do último recado do nosso entrevistado que diz: o banco está aberto para qualquer tipo de contribuição, fazemos parte de uma instituição que se orgulha muito dos parceiros que têm caminhado conosco durante esses 26 anos de existência.

Colaboradores

Simaia Barreto

simaia21@gmail.com