08/11/2018 Contos de Família
Quando o amor direciona sentidos opostos
Ana Luzia, hoje com 54 anos, casou-se aos 17 anos com Tamir, seu atual marido e pai de seus três filhos. Diorgenes Damasceno Araujo, tio Didi, já comemorou mais primaveras, hoje, aos 81 anos, é casada há apenas 10, com Azenir, depois de criar três filhos sozinho, em decorrência de uma viuvez precoce. O que poderia unir essas duas pessoas com contextos tão distintos, em torno de um propósito em comum?
A resposta para este encontro entre Ana Luzia e tio Didi, pode se resumir à admiração, amizade, lealdade, força, coragem, determinação, afinidades e contradições, e acima de tudo, respeito entre eles! São sentimentos que independem e superam a ausência dos laços consanguíneos. Embora casado com sua tia carnal, tio Didi e Ana Luzia desenvolveram uma relação familiar e de amizade norteada nos princípios da doutrina de que são adeptos.
Para Alan Kardec, o codificador do Espiritismo, “Os laços sociais são necessários ao progresso e os de família tornam mais apertados os laços sociais: eis por que os laços de família são uma lei da Natureza. Quis Deus, dessa forma, que os homens aprendessem a amar-se como irmãos.” Pois então, Ana Luzia e tio Didi nutrem entre si muito amor. E dizem por aí que o amor é capaz de tudo.
Pensando na vida de cada um é difícil acreditar nas afinidades entre eles: Ana Luzia nasceu em “berço de ouro” e teve uma educação privilegiada, tendo inclusive estudado na Europa. Já tio Didi, vem de uma família bem simples do interior da Bahia e foi educado à base de palmatória. Ela viveu e criou sua família na presença do marido. Ele cuidou dos três filhos sozinho e só depois dos 70, contraiu novo matrimônio, no que ele chama de “encontro marcado”.
As diferenças não acabam aí, Ana Luzia é economista, tem especialização e mestrado na área e hoje segue uma segunda graduação em Psicologia, seu verdadeiro sonho. Seo Diorgenes entrou pra faculdade bem depois, formou aos 70 anos em Filosofia. Um dia, encontraram um propósito em comum: escrever um livro.
Era São João, e no meio dos festejos, que une familiares e amigos em torno de mesas fartas de bolos, canjicas, milho, e animados por muito forró, em junho de 2017, tio Didi teve a ideia: “ Ana estou com o pensamento de escrever um livro, mas não um livro técnico-acadêmico, e sim um livro que fale sobre sentimentos e quero lhe convidar para escrever comigo!”.
Ana achou a ideia maravilhosa. Confiava em tio Didi, pois ele tinha escrito um livro acadêmico sobre os filósofos gregos e ela, desde menina gostava de escrever, mas somente tinha redigido livros técnicos-acadêmicos também. Foi uma grande felicidade imaginar, que agora, pela primeira vez, escreveria juntamente com um tio de 80 anos sobre sentimentos!…
Em algum momento, a dúvida perambulou pelo sonho da dupla. Será que as diferenças não inviabilizariam o projeto? Afinal pertenciam a gerações diferentes, quase 30 anos separavam suas histórias e as vivências de cada um eram muito distintas.
Será que daria certo? Ambos acharam tudo isso meio contraditório, quando tio Didi sugeriu o nome do livro – Sentimentos Contrários. Ana não tinha certeza se seria esse o nome, e então no dia seguinte ela sugeriu que os sentimentos não eram contrários, talvez tivessem Sentidos Opostos, já que muitas vezes, esses sentimentos se encontravam, em suas idas e vindas! Surge então o nome do livro: “ SENTIDOS OPOSTOS: Idas e vindas de sentimentos e emoções”.
Pronto para ser publicado no início de 2019, o livro de Ana Luzia e tio Didi fala de sentimentos sob aspectos filosóficos, psicológicos e do senso comum. Para Ana, a obra tem exatamente um misto de sentimentos e emoções! Ela explica que assim como o amor e o ódio podem ser sentidos por um mesmo ser humano, somos capazes de amar e odiar uma mesma pessoa. “Esse projeto é uma oportunidade de refletir sobre os SENTIDOS OPOSTOS que perpassam por cada um de nós, através de relatos de teóricos, pesquisadores, cientistas, artistas, como também, homens e mulheres do senso comum que já expressaram sobre tais sentimentos!”.
Juntos, os autores concluíram que escrever o livro em si, revelou para eles próprios sentidos opostos. Ao mesmo tempo em que passaram por momentos de êxtase, descobertas, paixões, vontade de repassar conhecimentos e sentimentos para outras pessoas, também os fez refletir, dialogar, e entrar em monólogos infinitos, em busca de respostas sobre qual o sentido, para eles próprios de escrever um livro e principalmente, retratando sentimentos.
As indagações de Ana Luzia e tio Didi aumentaram ainda mais quando pensaram sobre qual será a percepção do leitor. E o desfecho disso tudo não poderia ser mais coerente: “Chegamos a conclusão de que não temos, exatamente, nenhuma certeza sobre o sentido de escrever um livro, exceto o sentido de Amor”, declara Ana Luzia. E nessa história, entender qual o sentido de escrever um livro, surge como um incentivo para aqueles que abandonam sonhos e ideias pelo meio do caminho da vida. O amor é capaz de tudo mesmo.